Santuário do Caraça preserva espécies de plantas ameaçadas de extinção e flora endêmica
Além de reunir cultura, história, religiosidade e ser um destino turístico conhecido mundialmente, a Reserva Particular do Patrimônio Natural tem preciosidades vegetais que podem ser vistas apenas por lá
Que o Santuário do Caraça é um verdadeiro paraíso não é novidade. Mas o que nem todos os milhares de turistas que visitam o local todos os anos sabem, é a riqueza ambiental peculiar e única que a Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) oferece. Além se ser um destino turístico que projeta a região para todo o mundo, é foco para pesquisas de diversos profissionais, principalmente da biologia, que buscam conhecer as preciosidades naturais, como a curiosa flora endêmica e a espécies de plantas que estão ameaçadas de extinção.
Desde o início do século XIX, a vegetação da Serra do Caraça tem atraído a atenção de muitos viajantes e pesquisadores, começando pelo botânico francês Saint-Hilaire, em 1817, e o alemão Von Martius, em 1818. Mais tarde, na década de 1920, o geólogo e naturalista Álvaro Astolpho da Silveira realizou expedições pelo local, onde encontrou várias espécies novas de Eriocaulaceae e algumas espécies características da Serra e de seu entorno. A região foi alvo de muitos outros botânicos, com destaque para os trabalhos sobre Orquídeas de Pabst (1958), Pabst & Strang (1977), Mota (2006) e Mota et al. (2009), e a família Myrtaceae (Morais & Lombardi 2006). Também foram realizadas pesquisas de levantamento florístico/vegetacional, como os de Ferreira et al. (1977/1978), Magalhães et al. (1986), Mota (2002) e Oliveira (2010), além de um levantamento específico das pteridófitas (Viveros 2010).
De acordo com Márcio Mol, gerente geral do Santuário do Caraça, é comum receber pesquisadores na RPPN com frequência. “Temos mais 12.000 hectares de Mata Atlântica, Campos Rupestres e Cerrado, o que oferece uma grande diversidade de espécies de flora e fauna. Durante as trilhas, o turista mais atento consegue perceber espécies da flora endêmica e algumas plantas ameaçadas de extinção”, revela.
Segundo o gerente, no local já foram registrados exemplares de plantas que só podem ser encontradas no Santuário do Caraça. “Foram documentadas 241 espécies de pteridófitas, como a Huperzia rubra, hoje chamada Phlegmariurus ruber, além de espécies de candeias, vellozias, canjerana, lírios e ipês-amarelos e mais de 1.400 espécies de fanerógamas, sendo as famílias mais ricas as orquidáceas, bromeliáceas, eriocauláceas, rubiáceas, mirtáceas, melastomatáceas. Temos uma grande responsabilidade na preservação ambiental, pois cerca de 80 espécies destas famílias estão na lista oficial de plantas ameaçadas de extinção em Minas Gerais e dentre as 210 espécies de orquídeas já documentadas, nove estão ameaçadas no Estado. Os dois picos mais altos da Serra do Espinhaço estão dentro da reserva natural do Santuário do Caraça: o Pico do Sol, que fica a 2.072 metros de altitude, e o Inficionado, com 2.068 metros, e neles são encontradas diversas espécies de plantas que só sobrevivem em matas nebulares e campos rupestres acima de 1.900 metros de altitude, o que, consequentemente, atrai a atenção de pesquisadores de todo o mundo”, completa.
Mais atrações no Santuário do Caraça
Gastronomia
A gastronomia do Caraça é um ponto que merece atenção especial dos visitantes. Além da experiência de comer no refeitório histórico, com toda a simplicidade e variedade de sabores da comida mineira, é possível saborear pães, bolos e biscoitos, doces, geleias e compotas. O queijo minas artesanal, cujo processo de fabricação existe há mais de 200 anos, é uma das delícias mais procuradas no Santuário e é matéria prima de vários pratos da região em concursos e festivais gastronômicos.
A hora do lobo
Um dos grandes atrativos do Santuário do Caraça é a famosa hora do lobo. A tradição de aguardar a visita do lobo todos os dias à noite começou no Caraça em maio de 1982, quando algumas lixeiras começaram a aparecer derrubadas e reviradas. Num primeiro momento pensou-se que isto poderia ser causado por cachorros. Começou-se a observar e se descobriu que o grande cachorro que revirava as lixeiras do Santuário era na verdade o Chrysocyon brachyurus, que quer dizer "animal dourado de rabo curto". É chamado Guará porque em tupi-guarani, na língua dos indígenas, guará significa "vermelho".
Desde então, começaram a colocar bandejas de carne nos dois portões da frente da casa e aos poucos os lobos se aproximaram da escada da igreja. Hoje, a bandeja é colocada no adro da igreja, onde têm ido comer, além do lobo-guará, cachorros-do-mato e uma anta.
A prática de alimentar esses animais ali na Casa só persiste até os dias atuais porque o seu hábito de caça não foi comprometido. Por este motivo o lobo-guará não tem hora de aparecer. O tempo de espera da aparição do animal é conhecido como "hora do lobo", a partir das 18h30. Enquanto o lobo não vem, o Caraça proporciona aos hóspedes um tempo da informação, a educação ambiental.
Fonte de conhecimento
O Caraça é uma estrutura cultural em constante formação. Começou por volta de 1770, quando o Irmão Lourenço de Nossa Senhora iniciou a construção do 'hospício', como então era chamada a hospedaria para acolher peregrinos, e uma ermida – capela barroca, dedicada a Nossa Senhora Mãe dos Homens. Posteriormente, a instituição transformou-se em Colégio e Seminário. Atualmente o lugar mantém a sua essência, proporcionando às pessoas a chance de interagir com sua história.
O complexo é tombado como Patrimônio Histórico e Artístico Nacional e Estadual. Foi escolhido como uma das Sete Maravilhas da Estrada Real. Conta com um amplo Conjunto Arquitetônico onde estão a primeira igreja de estilo neogótico do Brasil, o prédio do antigo Colégio (hoje Museu e Biblioteca), o hotel com 54 apartamentos e quartos, com capacidade para até 230 pessoas, e a Fazenda do Engenho, com 26 apartamentos.
O Complexo do Caraça possui enorme diversidade de fauna e flora, com raridades de animais e plantas no meio ambiente. Na ampla diversidade de sua fauna, há 386 espécies de aves, 42 espécies de répteis, 12 espécies de peixes e 76 espécies de mamíferos.
A Reserva Particular do Patrimônio Natural do Santuário do Caraça faz parte de duas importantes reservas ecológicas, as Reservas da Biosfera da Serra do Espinhaço Sul e a da Mata Atlântica, onde há diversas espécies de flora e fauna, algumas encontradas somente no Complexo do Santuário do Caraça, que fica na transição entre Mata Atlântica e Cerrado, onde também há campos rupestres. Em suas srras há nascentes, ribeirões e lagos que possuem águas de coloração escura, que carreiam material orgânico em suspensão.
Seu solo é rico em minérios, explorados nos séculos anteriores, e com grande concentração de quartzito ou rocha metamórfica. Desde 2011, passou a ser preservado contra exploração comercial. O clima tem baixas temperaturas e elevada umidade do ar, comuns em ambientes de mata.
O território do Complexo do Caraça integra a Área de Proteção Ambiental ao Sul da Região Metropolitana de BH, onde começam duas grandes bacias hidrográficas, a do rio São Francisco e a do rio Doce, que abastecem aproximadamente 70% da população de Belo Horizonte e 50% da população de sua região metropolitana.
Biblioteca
A Biblioteca hoje está instalada no prédio onde funcionava o célebre Colégio, que hoje abriga também o Museu, o Arquivo e um Centro de Convenções
Museu
O museu, montado a partir de mobiliário e artefatos diversos de uso diário, pertencentes ao próprio Caraça e com algumas peças remanescentes de séculos passados, constitui um interessante lugar de visitação, diariamente procurado pelos hóspedes e visitantes, através de percursos guiados pelos monitores ou por conta própria, com taxa de visitação de R$ 5.
Igreja Neogótica
O Santuário do Caraça é a primeira igreja neogótica do Brasil, construída sem mão-de-obra escrava e toda com material regional: pedra-sabão (retirada de perto da Cascatona), mármore (das proximidades de Mariana e Itabirito, Gandarela) e quartzito (da região do Caraça e vizinhanças), unidas com produtos de base de cal, pó de pedra e óleo.
Santuário do Caraça
Local: Estrada do Caraça, Km 9 - Entre os municípios de Catas Altas e Santa Bárbara -
CEP 35960-000
Fácil acesso pelas rodovias BR 381 e MG 436, além do cômodo acesso por trem
(Estação Dois Irmãos - Barão de Cocais)
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