Aumento histórico da demanda e modernização do setor: o turismo brasileiro vai sair reforçado da pandemia
*Por Daniel Topper
O turismo é, provavelmente, um dos setores que mais sofre durante as crises. Ao mesmo tempo, é um dos mais resilientes, sempre se recuperando. Antes mesmo da pandemia de Covid-19, vários outros eventos externos, em proporções diferentes, impactaram negativamente o mercado de viagens, como atentados, crises econômicas, falências empresariais, crises ambientais e fenômenos naturais. Mas não paramos de viajar. Apreciar novos lugares e passar momentos inesquecíveis em família é algo que sempre volta, mesmo que de maneiras diferentes. E é dessa forma, se reinventando, que o turismo está retomando sua força.
Dentro desse contexto, o turismo brasileiro está agora diante de uma oportunidade única para sair reforçado da crise. Esse momento tem a ver com a junção de uma demanda nunca antes vista por parte dos viajantes e de uma evolução “forçada” dos padrões de qualidade oferecidos pelas empresas do setor.
Depois de meses em casa, a demanda reprimida por viajar é certa. Os que tiveram que remarcar ou cancelar viagens já fechadas estão colocando em prática os novos planos. Já os que nem estavam pensando nisso, agora passam a cogitar opções para se divertir e escapar do confinamento. Além disso, o tipo de destino desejado mudou. Com o dólar alto e os fechamentos de fronteiras, os brasileiros querem viajar para perto de casa. O artigo publicado em outubro pela consultoria global McKinsey & Company aponta essa tendência, calculando que o turismo doméstico deve se recuperar totalmente e retornar ao nível pré-crise até dois anos antes do que as viagens internacionais. Nesse sentido, o Brasil, por conta da imensa diversidade de regiões, paisagens e culturas, oferece ao viajante brasileiro uma possibilidade quase infinita de opções.
Falando do lado da oferta, a pandemia acelerou mudanças na hotelaria brasileira como nunca antes. Um levantamento recente feito pela World Travel & Tourism Council (WTTC), em parceria com a consultoria Oliver Wyman, apontou outras três tendências de retomada, além do crescimento do turismo doméstico: saúde e higiene, inovação e digitalização, e sustentabilidade.
Os hotéis brasileiros tiveram que fechar suas portas para os viajantes em março, diante da eclosão dos primeiros casos de Covid-19 no Brasil. A reabertura teve início em meados de junho, mas nesse intervalo, tudo mudou. Em pouco menos de quatro meses, os hotéis tiveram que adaptar toda a sua estrutura e criar novos protocolos de higiene e distanciamento. Associando-se com especialistas em saúde, eles mudaram seus processos para tornar as viagens não só possíveis, como também, e principalmente, seguras.
Em paralelo à questão da higiene e segurança, os hotéis buscaram inovações tecnológicas para digitalizar seus serviços do momento da venda até a experiência dentro do próprio hotel, tornando o processo de hospedagem “contactless”, pensando, novamente, na segurança dos viajantes. O resultado foi o retorno das atividades sem que o gráfico de contágio da doença aumentasse. E quem viajou nas últimas semanas teve a oportunidade de ver os esforços impressionantes que os hotéis fizeram para oferecer a experiência mais segura possível.
A pandemia de Covid-19, definitivamente, colocou a maturidade do setor à prova, como outras crises fizeram em momentos anteriores. A indústria turística brasileira sofreu, mas demonstrou uma capacidade de reação e de adaptação impressionantes, colocando a segurança e a saúde de todos os envolvidos em primeiro lugar. Juntando isso a uma demanda interna historicamente alta prevista nos próximos meses e anos, tenho certeza que o turismo brasileiro tem uma oportunidade única nas suas mãos.
*Daniel Topper é CEO do Zarpo, agência de viagens online
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