Mensagem... Um século de semeadura
Um século de semeadura
Nós o vimos há poucos dias. Era uma festa surpresa que, na verdade precisou ser revelada, com certa antecedência, evitando que emoções em demasia lhe pudessem causar algum inconveniente físico.
Lá estavam os quatro filhos, sete netos, dois bisnetos, além de sobrinhos, conhecidos, companheiros que com ele ombrearam durante anos no trabalho voluntário.
Ele chegou apoiado em sua bengala, um pouco curvado. Imaginamos que cem anos de vida pesam um pouco e levam a pessoa a tomar essa postura.
A surdez não lhe permitia ouvir tudo que lhe diziam mas nada mais o impediu de se alegrar com tantos cumprimentos.
A fila era longa. E cada abraço parecia mais demorado do que outro. A impressão que se tinha é de que cada convidado desejava estreitar aquele corpo magro, mais e mais, para se impregnar do perfume da sua presença física por um tempo mais longo.
Para cada um, ele tinha um sorriso. E algo a dizer. Plenamente lúcido e com memória prodigiosa, ele se encarregava de perguntar a um se conhecia aqueloutro, se sabia quem ele era.
E, naturalmente, ele fazia as apresentações, lembrando nome, parentesco ou função que exerce ou exerceu.
Prodigioso e encantador. Pensamos que ele logo se cansaria. No entanto, a cada momento mais nos surpreendia.
Disposto para posar para todas as fotos, com amigos, com familiares, com conhecidos. Em pé, sentado, agora aqui, depois ali. A nada se negou e tudo fez com ar de festa.
Parecia um menino de sorriso brejeiro desfrutando sua primeira festa de aniversário.
Na hora das homenagens, houve agradecimentos familiares, oração de gratidão a Deus por uma vida tão operosa, depoimentos de amor.
Um vídeo relatou, em breves minutos, sua trajetória, enquanto voluntário em instituição benemérita.
Uma placa, em veludo azul escuro, lhe foi oferecida. Aludia aos cem anos de semeadura farta.
Uma semeadura de bondade, carinho, atenção, amizade.
Ele desejou agradecer. Obedecendo ao seu temperamento dinâmico, não se restringiu a isso.
Agradeceu o hoje, o ontem. Recordou, bem humorado, de alguns lances vividos com amigos que já partiram.
Não era um idoso falando saudoso. Era um jovem reprisando emoções, experiências.
Uma lição de vida.
E somente parou quando lhe puseram a bengala em mãos e insistiram para que fosse até onde estava o bolo.
Ele sorriu, olhou para todos e falou: Querem mesmo que eu pare de falar!
Ouviu o Parabéns, deixou o bisneto apagar as velas dos cem anos, sorriu e sorriu.
Enquanto nós mal contínhamos a emoção, o velho Joãozinho, com sua enfibratura moral, tudo recebia entre sorrisos e agradecimentos.
Tivemos a alegria de vê-lo dirigir-se à pista de dança, enlaçado a uma filha, à neta, a uma amiga, e dançar, no ritmo certo, os passos corretos, como quem reprisa detalhes vividos.
Foi uma festa emocionante. Sobretudo porque com sua forma de ser, tudo que ouvimos a seu respeito de tantos familiares, amigos, pudemos ter certeza de que a sua vida é um exemplo.
Um grande exemplo de nobreza, de trabalho, de ponderação, de alegria.
Ele poderia chorar os que não estavam ali, em corpo físico. Nobremente, demonstrou como se deve usufruir da companhia dos que estão ao nosso lado.
Obrigado, senhor Joãozinho.
Redação do Momento Espírita, em homenagem a João de Mattos Lima, membro honorário do Conselho Federativo Estadual da Federação Espírita do Paraná.
Em 1º.4.2019.
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