Inflação e novas variantes da Covid-19 são desafios para a retomada econômica, alertam especialistas em evento do Banco Ourinvest
O que tem assustado é a inflação – e já estamos falando em algo em dois dígitos – sendo que câmbio pesou nessa balança junto com serviço. O IPCA-15, da semana passada, veio mais alto que o previsto e aumenta o risco de a inflação chegar a 9%”, alertou Fernanda Consorte, economista chefe do Banco Ourinvest
O Banco Ourinvest, referência em câmbio há mais de 40 anos, realizou o Radar Comex com especialistas em comércio exterior e internacional na manhã desta terça-feira (27/07).
Yana Dumaresq, ex-secretária especial de Comércio Exterior e Assuntos Internacionais do Ministério da Economia, avalia que o momento é de precaução e cautela. “O fim dessa crise e trajetória de recuperação são uma incógnita para todos nós. Temos novas variantes e outras questões que podem ainda potencializar a crise por aqui e, essa variável ainda é uma incógnita”, afirmou.
No caso do Brasil, segundo ela, há elementos complexos para retomada – até porque, na pandemia, gastamos como país desenvolvido, o que coloca uma pressão no fiscal. “Além disso, temos um momento de turbulência política muito grande. E isso coloca mais intensidade à dificuldade de uma trajetória de recuperação mais clara. Alguns economistas classificaram essa retomada como W, V – mas cada país tem sua dinâmica”, pontou.
Yana acredita que teremos um vigor até por conta do aumento da vacinação. “A própria crise da Covid-19 é algo de aversão a risco, de espera para ver o que vai acontecer e qualquer instabilidade de risco político eleva essa tensão”, destacou.
Fernanda Consorte, economista-chefe do Banco Ourinvest, classificou julho como uma montanha-russa. No início do mês, a impressão era de que o pior estava para trás – com taxa de câmbio batendo R$ 4,90 –, mas o cenário virou nas últimas semanas com o aumento da aversão nos mercados globais. “Aquele temor com a inflação dos EUA, que começou lá no início do ano, ainda segue. A inflação americana chegou a 5,40% e a possibilidade de aumento de taxas de juros - movimento flight to quality, que mexe com mercados emergentes – está cada vez mais real e mais próxima. Além disso, temos uma nova variante no radar e aversão a risco virou o nome do jogo”, avaliou.
A economista ressaltou que, nesse contexto, o real, como sempre, teve o pior desempenho entre os pares. “O Brasil está com filme um pouco queimado no mercado externo”, mencionou.
Para ela, o que tem também assustado no Brasil é a inflação. “Já estamos falando em algo em dois dígitos – sendo que câmbio pesou nessa balança junto com serviço. O IPCA-15, divulgado na semana passada, veio mais alto que o previsto e aumenta o risco de a inflação chegar a 9% no acumulado de 12 meses”, frisou.
Reforma Tributária e política ambiental
Fernanda alertou que o Brasil necessita de investimento estrangeiro para que a economia possa avançar. “Nosso problema do PIB é a falta de investimento consistente, e a Reforma Tributária é um dispositivo importante para dar segurança aos olhos o investidor. A questão ESG ganhou força globalmente, ou seja, o país precisa encarar esse tema como algo de prioridade”, disse.
Welber Barral, estrategista de Comércio Exterior do Banco Ourinvest, chamou a atenção sobre a importância da Reforma Tributária para o país no cenário internacional. “Outro ponto, é que nos tornamos aos olhos do mercado internacional um grande vilão de políticas ambientais. E isso afasta investidor”, classificou Barral.
Yana reforçou que há um consenso sobre a importância de uma Reforma Tributária, mas a questão é ‘como’ ela será conduzida. “Havia um projeto na Câmara amadurecido, mas com pontos de divergências entre Estado, União e Municípios. Optou-se por algo mais fragmentado, mas dentro de preceitos políticos. Acredito que nada substitui o diálogo e o tempo de amadurecimento. Podemos ter um campo reformista no campo tributária, embora não acredito que seja tão profundo”, mencionou.
Segundo ela, o Brasil também precisa marcar uma posição mais efetiva na questão ambiental. “A questão ESG ganhou força, e o Brasil precisa acompanhar esse movimento global e responder com políticas ambientais”.
O Radar Comex é um programa pensado para quem quer entender mais sobre as relações comerciais do Brasil. A live desta terça-feira trouxe uma visão mais abrangente do quadro político e econômico internacional.
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