navigation
SEGS Portal Nacional

Economia

Taxar livros: combate ao privilégio de um setor ou democratização do acesso à educação e cultura?

  • Quinta, 17 Setembro 2020 08:16
  • Crédito de Imagens:Divulgação - Escrito ou enviado por  Betania Lins
  • SEGS.com.br - Categoria: Economia
  • Imprimir

Por Lu Magalhães

Um projeto de reforma tributária do Governo Federal tem causado muita polêmica ao defender a cobrança de contribuição para o setor de livros; o cálculo é que a alíquota seja de 12% para esse novo imposto. Na prática, cai por terra a isenção de contribuição que o setor possui constitucionalmente. Contrárias à mudança, a Câmara Brasileira do Livro, o Sindicato Nacional dos Editores de Livros e a Associação Brasileira de Editores de Livros Escolares publicaram um manifesto, no qual o principal argumento é que essa cobrança aumentaria a desigualdade do acesso à cultura. Ou seja, representaria um retrocesso social e econômico. O argumento do ministro Paulo Guedes, defensor da medida, é que o livro é um produto de elite, logo, quem compra pode pagar um preço maior. Questionado sobre como não prejudicar ainda mais as pessoas em situação de vulnerabilidade econômica, sugeriu que o poder público compre livros para “dar aos pobres”.

Esse é um panorama muito raso sobre um problema muito sério. Claro que a indústria livreira gostaria que o faturamento permitisse que todos os impostos fossem pagos; que o setor não precisasse de incentivos para se manter vivo e competitivo. Entretanto, vivemos um contexto adverso no qual políticas públicas de incentivo são essenciais para a sobrevivência de um setor que foi especialmente atingido pelas crises econômicas recentes. Do outro lado, temos uma classe C que começou a consumir livros, justamente por uma série de medidas de incentivos. Não estamos falando de “dar livros”; o que está em questão é a oportunidade de escolha que o cidadão deve ter para comprar o próprio livro. Criar condições dignas para que seja um leitor pleno e exerça o seu direito de acesso à educação e cultura. Um país que taxa livros impede que o conhecimento circule entre os menos favorecidos economicamente. Essa é uma política excludente à luz da realidade brasileira.

Onde se taxa livros? Na França, Alemanha e Dinamarca, ou seja, países com solidez econômica. Um relatório produzido pela International Publishers Association aponta que os livros têm tributação zero na maioria dos países da América Latina; Argentina, Colômbia, Bolívia, Peru e Uruguai não tributam; a exceção é o Chile. No mundo, a alíquota zero é corrente entre regiões em desenvolvimento como Índia; é praticado, também, na África e Oriente Médio.

O recorte que faço é do impacto dessa medida em um momento em que começamos a fomentar novos leitores. A pesquisa Retratos da Leitura, edição 2020, mostra que para 22% dos leitores brasileiros o preço é uma determinante para a escolha e aquisição de obras; esse índice sobre para 28% entre os com renda de um a dois salários mínimos. Entre a classe A, somente 16% escolhem livros pelo preço. São dados que comprovam a tese de que o imposto vai atingir 27 milhões de consumidores de livros das classes C, D e E – não da alta renda, como defende o ministro. Acredito que esse seja um alerta importante para que a população não pense que o setor está brigando para manter privilégios negados a outras indústrias.

É importante destacar que tornar o livro acessível a todos os brasileiros – sobretudo os de menor renda – é uma questão de cidadania e uma estratégia para a construção de um Brasil melhor.

| Lu Magalhães é presidente da Primavera Editorial, sócia do PublishNews e do #coisadelivreiro. Graduada em Matemática pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), possui mestrado em Administração (MBA) pela Universidade de São Paulo (USP) e especialização em Desenvolvimento Organizacional pela Wharton School (Universidade da Pennsylvania, Estados Unidos). A executiva atua no mercado editorial nacional e internacional há mais de 20 anos.

SOBRE A EDITORA | A Primavera Editorial é uma editora que busca apresentar obras inteligentes, instigantes e acalentadoras para a mulher que busca emancipação social e poder sobre suas escolhas. 


Compartilhe:: Participe do GRUPO SEGS - PORTAL NACIONAL no FACEBOOK...:
 

<::::::::::::::::::::>

 

+ECONOMIA ::

Maio 14, 2025 Economia

Reforma tributária exige nova postura das empresas na…

Maio 13, 2025 Economia

Corretoras internacionais, P2P e troca de BTC por USDT…

Maio 12, 2025 Economia

Para não errar, consumidor da classe DE paga mais caro:…

Maio 09, 2025 Economia

Precisa de empréstimo? Confira cinco dicas para…

Maio 08, 2025 Economia

Dia das Mães deve impulsionar vendas no varejo e…

Maio 07, 2025 Economia

Transações via PIX e dependentes: dúvidas comuns ao…

Maio 06, 2025 Economia

Fique de olho no Leão: o que muda no IR 2025 e como…

Maio 05, 2025 Economia

Imóveis ou fundos imobiliários: qual é o investimento…

Maio 02, 2025 Economia

Mais vendas, mais golpes: como comerciantes e…

Abr 30, 2025 Economia

Dia das Mães, o segundo Natal do comércio: Venda online…

Abr 29, 2025 Economia

Alta de juros: por que fazer um consórcio residencial é…

Abr 28, 2025 Economia

IRPF 2025: lei muda regras de tributação de offshores e…

Abr 25, 2025 Economia

Entregar a declaração do Imposto de Renda no prazo…

Abr 24, 2025 Economia

Fluxo de caixa comprometido por tributos e taxas?…

Abr 23, 2025 Economia

Expansão do e-commerce chinês gera impactos para…

Abr 22, 2025 Economia

Fluxo no varejo cai 2% e faturamento também recua em…

Mais ECONOMIA>>

Copyright ©2025 SEGS Portal Nacional de Seguros, Saúde, Info, Ti, Educação


main version