Mitos do Leite A2: produto não é para intolerantes à lactose e alérgicos à proteína do leite
Apesar de amplamente divulgado, o alimento é indicado para quem sente desconforto ao ingerir leite comum
A indicação de leite A2 tem se tornado cada vez mais frequente por profissionais de saúde, dentro e fora do País. O motivo é que o leite A2, naturalmente mais fácil de digerir, tem se mostrado uma excelente alternativa para quem sente desconforto ao ingerir o alimento e seus derivados. Contudo, apesar de amplamente divulgado na mídia, esse leite não é destinado a pessoas que tenham intolerância à lactose ou para crianças com alergia à proteína do leite de vaca (APLV).
A confusão ocorre porque algumas pessoas são mais sensíveis à β-caseína A1, presente no leite comum, o que desencadeia sintomas semelhantes aos da intolerância à lactose. Como resultado, esses indivíduos deixem de consumir lácteos ou optam por produtos sem lactose, o que, na prática, não traz nenhum efeito benéfico, já que essas pessoas possuem níveis normais de lactase, a enzima que digere a lactose, e cuja deficiência é responsável pelos quadros de intolerância.
Diante dessa popularização, o leite A2 surgiu como uma “luz no fim do túnel” para quem gosta de consumir um copo de leite antes de dormir ou um pudim no final de semana. O leite A2 é o que possui apenas a β-caseína A2. A β-caseína do leite de vaca possui 209 aminoácidos, sendo que as variações A1 e A2 diferem apenas por um aminoácido na posição 67. Todas as fêmeas de espécies mamíferas, inclusive os seres humanos, produzem apenas a β-caseína A2, mas, por causa de uma mutação genética que ocorreu há aproximadamente 10 mil anos, algumas vacas passaram a produzir a β-caseína A1.
Essa pequena mudança pode parecer inofensiva, mas é suficiente para alterar a digestão da molécula e levar a outras consequências. Quando as enzimas digestivas interagem com a molécula de β-caseína A1, ela é quebrada, justamente na posição 67, liberando um peptídeo de sete aminoácidos, o BCM-7. A presença de prolina, em vez de histidina, na variante A2, evita a hidrólise da ligação peptídica entre os resíduos 66a e 67a na β-caseína A2 e inibe a produção de BCM-7.
Mesmo existindo muita informação sobre o assunto, algumas pessoas, inclusive, profissionais da área da saúde e do meio científico, confundem a intolerância à lactose com a APLV (alergia à proteína do leite) e ainda com o desconforto gastrointestinal. Isso ocorre porque todas são causadas pelo mesmo alimento, o leite, e também porque podem apresentar alguns sintomas semelhantes, como cólicas e diarreia. Mas são quadros completamente diferentes.
O grande perigo dos modismos que pregam a retirada da lactose da dieta é criar indivíduos artificialmente intolerantes. Essa também é a razão pela qual as pessoas intolerantes não devem cortar completamente a lactose de suas dietas. O diagnóstico de intolerância à lactose deve ser feito por meio de testes laboratoriais, solicitados por médico ou nutricionista.
Como comprar?
Antes de indicar aos seus pacientes, o profissional deve estar atento à importância do produto conter o selo “VACAS A2A2”, que garante sua procedência. A certificação que concede o selo VACAS A2A2 é um programa criado para assegurar que as propriedades e indústrias que produzem o leite A2 estejam aptas a produzir e comercializar leite ou derivados provenientes de vacas com genótipo A2A2. A certificação garante que os lácteos com o selo contêm apenas caseína A2 em sua composição, sem risco de mistura com beta-caseína A1.
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