Agricultura urbana: melhor saída para corpo, mente e bolso
Alvaro Crovador (*)
A agricultura urbana é definida como a produção agroecológica de alimentos nas cidades, aproveitando as áreas ociosas urbanas e periurbanas para promover uma produção sustentável com processamento e comercialização de alimentos saudáveis. O desenvolvimento da atividade remonta às culturas medicinais, o plantio de hortaliças e flores. Egito e Peru são exemplos de países com essa prática nas civilizações antigas, relata o pesquisador Raheleh Rostmani.
Seguindo a trilha de resgate histórico, alguns eventos foram importantes no desenvolvimento da agricultura urbana. Por exemplo, países fomentaram incentivos na produção em parques e terrenos privados durante os períodos de guerra. Segundo a pesquisadora Miriam Hermi Zaar, em 1945, 40% da produção dos alimentos nos EUA era proveniente de hortas familiares e comunitárias. Já o Reino Unido, no seu Ministério da Agricultura (britânico e escocês), criou durante a Segunda Guerra Mundial uma campanha para garantir a alimentação da população chamada “dig for victory” (plante para a vitória). E a Guerra Fria entre EUA e URSS fez com que Cuba apresentasse um dos maiores casos de sucesso em agricultura urbana e agroecologia.
Aqui no Brasil também há vários casos de sucesso de hortas urbanas. Talvez o mais famoso seja do shopping Eldorado, em São Paulo. Em uma área ocupada de cinco mil m² no terraço do shopping são depositadas 60 toneladas de composto orgânico por mês. Além de ajudar a poupar energia elétrica – pois reduz em 6°C a temperatura no andar abaixo –, boa parte do composto gerado é utilizado para a produção e consumo de hortaliças, legumes, temperos, ervas pelo próprio shopping e outra parte é doada à população.
Muitos não sabem, mas o país tem o Programa Nacional de Agricultura Urbana e Periurbana que reforça os incentivos, possibilitando recursos à produção de hortas urbanas e comunitárias. No Paraná, a COPEL (Companhia Paranaense de Energia) proporciona a viabilização de hortas comunitárias em imóveis sob linhas de energia, em parceria com prefeituras municipais, promovendo a substituição de áreas ociosas e subutilizadas por áreas verdes e produtivas. Dessa forma, os municípios também apresentam seus projetos, disseminando a prática pelo país. O incentivo realizado por diversas organizações, como a COPEL, está relacionado aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) e age sobre a fome zero, a agricultura sustentável, a redução da desigualdade dentro dos países, além de revitalizar a parceria global para tal desenvolvimento.
Em 2020, juntamente com a pandemia de COVID-19, tivemos uma alta nos preços como há tempos não víamos. Este cenário incentivou o retorno de muitas famílias à agricultura em casa, mesmo que em pequena escala. Afinal, independente de morar em casa, apartamento, condomínio, existem espaços que as hortas podem ocupar. Pequenas áreas e locais não ocupados podem se transformar, bem como vasos e paredes também viram espaços produtivos.
Além de fornecer um complemento alimentar às famílias, a agricultura urbana traz os benefícios de uma alimentação saudável, sem agrotóxico, com produtos frescos. E ainda evita desperdícios, pois retira-se apenas a quantidade que será consumida. Estudos mostram que isto também ajuda na saúde física e mental, uma vez que movimenta corpo e mente. Tanto é que a Organização Mundial da Saúde (OMS), na Carta de Ottawa para a promoção da saúde, passou a caracterizar como iniciativas de promoção de saúde os programas e as atividades planejadas e executadas de acordo com os princípios de concepção holística, ou seja, aqueles que fomentam a saúde física, mental, social e espiritual. Dentre eles se enquadra a agricultura urbana, conforme revela o livro Agricultura Urbana: agroecologia, alimentação, saúde e bem-estar, de Angélica Campos Nakamura.
A agricultura urbana, seja em famosos casos como do shopping Eldorado ou em pequenas iniciativas caseiras, beneficia famílias em situação de fragilidade social. E essa, talvez, seja sua principal importância hoje. Nos tempos atuais, com a alta nos preços de alimentos, trouxemos as hortas para perto novamente como alternativa para todas as “saúdes”, inclusive a financeira. O clássico exemplo de que a adversidade se tornou oportunidade. A situação de produzir o próprio alimento tem se revelado a melhor saída.
(*) Alvaro Crovador é mestre em Educação, Agricultor Urbano e Coordenador de Pós-Graduação da UNINTER
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