Bem-estar animal da cadeia produtiva – o que é e por que é fundamental para a qualidade do produto final
Por Adriane Zart*
Os bons pecuaristas sabem que não existe produção eficiente sem saúde e bem-estar animal. Já entenderam que, assim como para nós, humanos, o retorno produtivo de um animal que está bem e tranquilo no meio onde vive é muito maior e que não é difícil tornar os procedimentos de manejo mais eficientes. As boas práticas têm como objetivo maior fazerem com que os bovinos possam se expressar em sua potencialidade, num ambiente o mais favorável possível para seu comportamento natural. Todos esses cuidados têm influência direta no produto que chega à mesa. Isso é também respeito à relação homem-animal e ao consumidor, cada vez mais exigente quanto a essas questões.
Ninguém questiona que o bem-estar animal é algo fundamental na cadeia produtiva. E há uma clara tendência de que os consumidores tomem suas decisões com base em questionamentos éticos e um consumo mais consciente e informado. Mas será que estão dispostos a pagar por isso? Ou ainda, será que estão, de fato, atentos a isso na hora de comprar carne?
Em 2016, a ONG World Animal Protection apresentou um estudo sobre a percepção do consumidor a respeito do bem-estar animal em quatro países latino-americanos: Brasil, Chile, Colômbia e México, cujo objetivo era entender o pensamento dos consumidores sobre a questão do bem-estar dos animais de produção, analisando seus hábitos de compra e consumo de carne, leite e ovos, como se relacionam com a rotulagem de produtos, conhecimento sobre bem-estar animal, intenção de compra etc.
Dentre alguns resultados da pesquisa realizada aqui no Brasil, tivemos que 68% dos entrevistados disseram consumir carne pelo menos quatro vezes por semana. A qualidade apareceu por unanimidade como o atributo mais importante na escolha do consumidor em todos os países analisados. A produção com bem-estar animal, no entanto, figurou na 6ª posição nos quesitos de exigência dos consumidores entrevistados. E dois em cada três entrevistados declararam não ter conhecimento suficiente sobre a forma como se criam os animais destinados à produção de carne.
Apesar de desconhecer como os animais são criados e abatidos, mais da metade dos entrevistados no Brasil declarou que tem preocupação com o método de abate. Há ainda uma alta percepção (91% do público entrevistado) de que existe uma relação entre o bem-estar animal e a qualidade da carne; 74% dos entrevistados declararam acreditar que o sistema de produção de carne que se preocupa com o bem-estar animal tem menor impacto ambiental.
Esse estudo é só mais uma prova do quanto ainda somos ineficientes em mostrar aos consumidores COMO produzimos. Infelizmente, muitos acreditam que o sofrimento é uma constante na pecuária, do nascimento ao abate. Porém quem está presente no dia a dia das fazendas sabe o quanto cuidamos desses animais. Todos os dias, homens e mulheres no campo se dedicam a garantir saúde, alimento, água e descanso apropriado para que o gado tenha uma boa vida. Apesar de muitas vezes investirmos em tecnologias, produtos e estratégias para garantir o melhor alimento e a sanidade para nossos animais, falhamos justamente em entender seu comportamento e tornamos a nossa interação com eles estressante e desgastante para ambos, homem e animal, assim como também falhamos em comunicar aos consumidores toda a história e o zelo que existem por trás da produção de carne.
Há, portanto, um caminho a percorrermos na ponta da cadeia. Para dentro da porteira, eu diria que o pecuarista do futuro é aquele que se preocupa hoje em como seus animais são manejados na fazenda. É, sobretudo, aquele que tem orgulho de seu trabalho e a consciência tranquila a respeito do que é feito em sua propriedade. Entendo que, aqui, uma longa jornada vem sendo percorrida e que temos grandes oportunidades para tornar nossa produção ainda melhor e mais eficiente.
* Médica-veterinária, grande precursora no Brasil da técnica “Nada nas mãos” de manejo de gado e consultora da Zoetis.
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