Controle biológico: o grande aliado da produção de alimentos saudáveis
* Por Lucas von Zuben
O termo controle biológico se define como o uso de organismos vivos para conter a densidade populacional e os danos causados por uma praga. Esse conceito está cada vez mais presente no setor agropecuário, e os organismos utilizados são inimigos naturais das pragas em questão. Trata-se de uma forma de aproveitar as relações ecológicas já presentes na natureza a favor da cadeia produtiva.
No controle biológico, o inimigo natural da praga é produzido em larga escala e introduzido na cultura alvo. Como resultado, o parasita se torna menos abundante e os danos causados são menos prejudiciais, atingindo níveis abaixo do dano econômico. O controle biológico, portanto, é um importante contribuinte no manejo integrado de pragas (MIP).
O MIP, por sua vez, é definido como um sistema ou processo que auxilia na decisão de escolha e uso de uma ou mais estratégias de controle de pragas, de forma que sejam utilizadas de modo coordenado. Esse manejo integrado busca determinar uma relação de custo e benefício, levando em conta o impacto não somente sobre os produtores, mas também na sociedade e no meio ambiente. Além do controle biológico, o MIP integra outras técnicas de manejo, como o cultivo rotacionado de culturas, plantios consorciados, utilização de armadilhas com feromônios, entre outros.
Os tipos de controle biológico
O controle biológico pode ser dividido em dois grupos: macro e micro, de acordo com os organismos que são utilizados nesse manejo. Ou seja, se são utilizados macro organismos (classificados como predadores ou parasitóides), ou microrganismos (patógenos), respectivamente.
Os predadores geralmente são maiores que a praga, e consomem diversos indivíduos ao longo de suas vidas. Predadores não costumam ser exigentes para se alimentar, podendo ingerir diferentes tipos de presas. Como exemplo, temos o uso de joaninhas para controle de pulgões em diversas culturas.
Os parasitóides são conhecidos por se desenvolverem dentro do corpo da praga, se alimentando dela e quase sempre levando-a à morte. Esses parasitóides costumam ter tamanho menor que a praga e são mais exigentes, ou seja, atingem pragas mais específicas, sendo importantes agentes do controle biológico. Um bom exemplo desse controle é o uso de vespas do gênero Trichogramma para controle das lagartas-do-cartucho, uma das principais pragas nas lavouras de milho. As fêmeas dessas vespas colocam seus ovos dentro dos ovos das lagartas, o ovo da vespa eclode e as pequenas larvas da vespa se desenvolvem dentro dos ovos das lagartas, levando-as à morte.
Já os patógenos, como fungos, bactérias e vírus, são microrganismos que vivem e se multiplicam dentro de uma praga, causando, na maioria das vezes, a morte do parasita. Esses patógenos, além de alta especificidade, têm ação rápida e eficaz, principalmente em condições ambientais favoráveis. Essa categoria de controle é a forma mais utilizada de controle biológico no mundo.
No Brasil, a utilização de patógenos é bem difundida e apresenta exemplos bem conhecidos na nossa agricultura, como no controle da Helicoverpa armigera, por meio do Bacillus thuringiensis, e também no controle das cigarrinhas pelo fungo Metarhizium anisopliae. Para expandir a utilização desse grupo de microrganismos aliados, o tratamento biológico à base de fungos tem sido utilizado para controle do carrapato-do-boi.
O controle biológico na agropecuária
O controle biológico tem se apresentado como um importante aliado da pecuária. Já utilizado há anos na agricultura, passou a ser uma opção viável para o setor. As soluções existentes, que podem ser aplicadas no animal e no pasto, têm como princípio ativo esporos de fungos, inimigos naturais dos carrapatos. Quando distribuídos no gado e no ambiente, entram em contato com o parasita, germinam e se desenvolvem, levando-o à morte em alguns dias.
O tratamento não deixa resíduos no leite e na carne e pode ser utilizado em todo o rebanho, inclusive em vacas prenhes e bezerros. Além disso, a solução não é tóxica para humanos, e nem para os animais, e, como se trata de um inimigo natural dos ectoparasitas, não há problemas com resistência a esse método de controle.
Acompanhando uma tendência mundial, vemos que o consumidor está cada vez mais consciente e tem uma nova percepção e relação com os alimentos que consome. Começa a questionar sobre a origem, se preocupa com a procedência dos produtos e com o trato dos animais. O alimento do futuro tem de ser mais limpo, saudável e sustentável. Essa mudança de hábito impacta toda a cadeia, especialmente os produtores, que devem se adaptar à nova demanda. Diante disso, o controle biológico se apresenta como um importante aliado.
O método é indicado por pesquisadores e produtores como a melhor ferramenta para se produzir com qualidade, respeitando o meio ambiente. Recentemente, o Mapa lançou o Programa Nacional de Bioinsumos, com o objetivo de impulsionar a utilização de insumos biológicos na agropecuária brasileira. A tecnologia, portanto, representa uma oportunidade para a inovação na pecuária e é uma maneira eficaz de controlar pragas de forma biológica, estratégica e natural.
Por meio de alternativas mais sustentáveis e tecnológicas que mantêm a sanidade de uma criação, é possível proporcionar bem-estar animal, qualidade de vida ao produtor e ao consumidor, e a preservação do meio ambiente. O sucesso no controle, portanto, reduz os danos e garante melhor eficiência e maior produtividade e saúde dos animais.
* Lucas Garcia von Zuben é CEO da Decoy Smart Control, desenvolvedora de soluções biológicas para controle de pragas.
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