Milho Safrinha: Janela de Plantio: como funciona? Quais os cuidados?
Por Décio Karam, membro do Conselho Científico Agro Sustentável (CCAS), Ph.D, pesquisador de Manejo de Plantas Daninhas da Embrapa Milho e Sorgo
O substantivo feminino “janela” tem sido utilizado para várias denotações, entretanto é mais aplicado quando nos referimos a um vão em paredes de uma construção a meia altura que permite a entrada de ar e claridade nos ambientes. Mas quando o relacionamos à agricultura, essa terminologia é usada para definir a melhor época para se realizar o plantio das culturas, levando em conta o menor risco de frustração de safra.
A partir da safra 1995/1996, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) passou a disponibilizar informações para os agricultores sobre a melhor época de plantio de várias culturas de acordo com o município, as características do clima, o tipo de solo e o ciclo das cultivares.
A finalidade dessa informação é repassar ao agricultor o período em que há a menor possibilidade de adversidades climáticas, que coincidam com as fases mais sensíveis das culturas, reduzindo, desta maneira, as probabilidades de quebra de safras. Assim, na agropecuária brasileira, estes períodos são conhecidos como “janela de plantio”.
A importância da janela de plantio fica mais evidente quando observamos os agentes financiadores da produção agrícola baseando suas decisões de liberação de recursos a partir da análise da capacidade financeira do produtor e dos aspectos técnicos para a instalação e condução da lavoura, tendo como ponto principal de decisão o período de plantio definido no Zoneamento Agrícola de Risco Climático (Zarc).
Para conhecer o melhor período de plantio, o agricultor pode acessar o portal do Programa Nacional de Zoneamento Agrícola de Risco Climático por meio do site do Mapa https://www.gov.br/agricultura/pt-br/assuntos/riscos-seguro/programa-nacional-de-zoneamento-agricola-de-risco-climatico, onde se pode fazer a busca pelo município e pela cultura a ser implantada.
Para se ter sucesso no plantio do milho safrinha é importante prestar atenção na época de semeadura, já que, quanto mais tarde for semeado, menor será o potencial produtivo da cultura e maior será o risco de perdas por geada e/ou seca, dependendo da região produtora. Como alternativa para aumentar esta janela de plantio para a cultura do milho safrinha, o uso de cultivares de soja mais precoces é recomendado e essa prática é usualmente adotada.
O uso de cultivares de soja superprecoce ou precoce no sistema soja-milho safrinha tem permitido ao produtor encurtar o ciclo da soja em pelo menos 20 dias, quando comparado ao uso de cultivares de ciclo médio, e em pelo menos 40 dias, quando comparado com as cultivares de ciclo tardio. Embora essa escolha amplie o período de plantio do milho dentro da janela de plantio, muitas reduções têm ocorrido nos patamares produtivos da soja quando comparamos com o plantio de cultivares com ciclos médio, semitardio e tardio na mesma época.
Ainda que as informações estejam disponíveis, alguns agricultores, que adotam em suas áreas agrícolas a sucessão soja–milho safrinha, frequentemente encontram dificuldades no plantio do milho, realizando a operação, muitas vezes, fora da janela recomendada.
Normalmente, a capacidade operacional é suficiente para o cultivo de verão, porém, com a janela menor para a de safrinha, o produtor acaba finalizando a operação de plantio fora da época e colocando a cultura em condições em que o risco de perda de produtividade é iminente.
Assim, para buscar o ajuste da safrinha dentro da época ideal, muitos produtores do Brasil estão adiantando o cultivo de verão com a soja, justamente para viabilizar a segunda safra, mesmo que isso signifique a possibilidade de aumento do risco de frustração da safra de verão.
É importante o produtor conhecer o novo sistema de classificação de ciclo de cultivares, o Grupo de Maturidade Relativa (GRM), que se fundamenta na resposta ao fotoperíodo em práticas de manejo e na área geral de adaptação. O GRM define o ciclo, em dias, da cultura da semeadura até a maturidade fisiológica e estabelece com mais realidade o ciclo da soja permitindo que o produtor conheça melhor forma de cultivar a ser utilizada em sua área de produção.
Resta, portanto, ao agricultor fazer o planejamento mais adequado da propriedade para o sistema produtivo a ser adotado, analisando os riscos e as probabilidades para frustração de safra utilizando tecnologias e informações que permitam maiores produtividades, sem prejudicar o rendimento das culturas selecionadas para plantio.
Conhecer o rendimento operacional (ou seja, quantos hectares por dia são gastos para a semeadura) e os dados de Zarc para o plantio de safrinha, podem definir quais as datas de início do plantio da soja no verão e, principalmente, calcular a área a ser semeada com milho safrinha, podendo explorar o máximo das produtividades das duas culturas.
Sobre o CCAS
O Conselho Científico Agro Sustentável (CCAS) é uma organização da Sociedade Civil, criada em 15 de abril de 2011, com domicilio, sede e foro no município de São Paulo-SP, com o objetivo precípuo de discutir temas relacionados à sustentabilidade da agricultura e se posicionar, de maneira clara, sobre o assunto.
O CCAS é uma entidade privada, de natureza associativa, sem fins econômicos, pautando suas ações na imparcialidade, ética e transparência, sempre valorizando o conhecimento científico.
Os associados do CCAS são profissionais de diferentes formações e áreas de atuação, tanto na área pública quanto privada, que comungam o objetivo comum de pugnar pela sustentabilidade da agricultura brasileira. São profissionais que se destacam por suas atividades técnico-científicas e que se dispõem a apresentar fatos concretos, lastreados em verdades científicas, para comprovar a sustentabilidade das atividades agrícolas.
A agricultura, apesar da sua importância fundamental para o país e para cada cidadão, tem sua reputação e imagem em construção, alternando percepções positivas e negativas, não condizentes com a realidade. É preciso que professores, pesquisadores e especialistas no tema apresentem e discutam suas teses, estudos e opiniões, para melhor informação da sociedade. É importante que todo o conhecimento acumulado nas Universidades e Instituições de Pesquisa seja colocado à disposição da população, para que a realidade da agricultura, em especial seu caráter de sustentabilidade, transpareça.
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