Especialistas avaliam o mercado de equipamentos na construção, agronegócio e locação depois da pandemia
O Sobratema Webinar com o apoio da Analoc mostrou que há diferenças entre os setores, mas que há sinais positivos para a retomada
A pandemia do novo coronavírus afetou a economia global. No Brasil, a expectativa é de uma queda brusca em diversas atividades. Entretanto, alguns setores já demonstram uma estagnação ou até um crescimento. Esse é o caso do agronegócio e de alguns segmentos de locação de equipamentos para construção.
“A atividade agrícola não parou. E, durante a pandemia, o real se desvalorizou ante ao dólar, elevando o faturamento do produtor, uma vez que a soja e milho tiveram uma alta em seu valor. Além disso, a relação grão-fertilizante ficou melhor”, contextualizou José Antonio Gorgen, presidente do Grupo RISA, durante o Sobratema Webinar “Investimentos em equipamentos no mercado em transformação”, promovido pela Associação Brasileira de Tecnologia para Construção e Mineração (Sobratema) e a Associação Nacional dos Sindicatos e Representantes de Locadores de Máquinas, Equipamentos e Ferramentas (Analoc), no dia 25 de junho, pelo Canal da Sobratema no Youtube.
Na área de locação de equipamentos de pequeno porte para a construção civil, a Casa do Construtor é um exemplo de que está havendo uma recuperação. Conforme relatou Expedito Eloel Arena, fundador da franquia, no início, houve um impacto maior nos grandes centros, com lojas tendo que ser fechadas em decorrência da velocidade do contágio pela Covid-19. “Como dado, 71% da rede cresceu ou caiu até 20% do faturamento. Porém, neste mês, estamos com um percentual 3% menor em relação a janeiro. Estamos felizes com esse resultado. O setor de pequenas obras e de reformas é que têm nos sustentado neste período”.
Na Ouro Verde, Marluz Renato Cariani, head Comercial de Equipamentos Pesados da Ouro Verde, após 100 dias da pandemia, em junho, houve um crescimento na procura por equipamentos locados. Com isso, a empresa pretende investir R$ 100 milhões na aquisição de novas máquinas. “A nossa expectativa de fechamento para 2020 nesse segmento de equipamentos pesados para construção com contratos a longo prazo é algo em torno de 10% a 15% de crescimento”.
Já no segmento da construção, Carlos Magno Cascelli Schwenk, gestor de Equipamentos da Barbosa Mello Construtora contou que as obras continuaram, respeitando as medidas necessárias para manter a segurança e saúde dos profissionais. Mas, os custos gerais aumentaram em função do alojamento, transporte e saúde física e psicológica das pessoas. Mesmo assim, a construtora continuou parte dos seus investimentos.
Porém, ele citou alguns desafios que surgiram como o aumento do valor dos equipamentos importados, o maior prazo de entrega e a alta da taxa de financiamento. “Há também a falta do capital humano, já que as pessoas que fazem parte do grupo de risco foram afastadas e algumas delas são chave para o processo”.
Thomás Spana, gerente de Vendas da Divisão de Construção da John Deere, fez uma avaliação durante o Sobratema Webinar do mercado de equipamentos. Segundo ele, o segmento está mantendo o ritmo de crescimento do ano passado quando se trata de atender a área de commodities: agricultura e mineração, e o setor de locação.
Por outro lado, Spana explicou que houve uma queda grande das exportações para a América Latina, o que afetou a produção. Além disso, a desvalorização do real também contribuiu para o aumento do preço das máquinas.
Nesse sentido, Mario Miranda, consultor do Estudo Sobratema do Mercado Brasileiro de Equipamentos para Construção, mostrou que, geralmente, o setor tem acompanhado, desde 2007, a variação do Produto Interno Bruto, com reações importantes em situações de retomada. “Um exemplo disso é analisar a reação de 94% para a linha amarela e 84% para todos os equipamentos em 2019 diante da queda em 2016”, disse.
No evento virtual, ele trouxe ainda as informações sobre o mercado de equipamentos utilizados no agronegócio e também avaliou a questão dos investimentos nesse período de transformação, que inclui desafios como a alta do dólar, a expectativa de uma queda de mais de 6% do PIB e como serão feitas as obras de infraestrutura.
Sobre os equipamentos agrícolas, o presidente do Grupo RISA ressaltou que o Brasil triplicou a capacidade de tração dos equipamentos, possibilitando uma produção maior na mesma extensão territorial. “O agro investe muito em tecnologia”, destacou. Porém, ele lembrou o país precisa de infraestrutura, em especial, ferroviária e marítima, para atender a demanda por alimentos na nação e no mundo.
Nesse sentido, o engenheiro Afonso Mamede, presidente da Sobratema, enfatizou a importância da aprovação do marco regulatório do Saneamento pelo Senado Federal, que vai propiciar a geração de empregos n e garantir a universalização do saneamento o país. Ele ainda comentou sobre a intenção do Ministério da Infraestrutura para alavancar a concessão de ferrovias no Brasil.
Reynaldo Fraiha, presidente da Analoc, complementou que o país precisa de investimento de infraestrutura para acelerar a volta do crescimento e que a aprovação da nova Lei do Saneamento poderá trazer muitos recursos.
Locação ou aquisição
Outro questionamento feito por Eurimilson Daniel, vice-presidente da Sobratema e diretor da Analoc, aos debatedores do Sobratema Webinar foi a respeito da locação versus a compra de equipamentos.
O head Comercial de Equipamentos Pesados da Ouro Verde afirmou que vê uma mudança na visão dos clientes. “Hoje, eles estão preferindo usar o equipamento, sem precisar se preocupar como e para quem irá comercializar o ativo após o tempo de uso”, ponderou. Segundo ele, está havendo essa migração da compra para a locação, seguindo a realidade de outros países, como a Argentina, que trabalha com a locação na área agrícola.
Contudo, o presidente do Grupo RISA explicou que não é possível comparar os dois países nesse segmento porque a janela de plantio e colheita são diferentes bem como as características geográficas e dos produtores rurais. “Não existe uma cultura de locação tanto para os micros, pequenos e médios produtores como para as grandes fazendas”, acrescentou. No segundo caso, o motivo é que eles já investem em equipamentos altamente produtivos e não farão a locação de máquinas com menor eficiência e produtividade. “Acho que vai demorar um pouco para esse tipo de mudança”.
Em outro segmento, a construção, a locação já é parte da realidade. “A opção pela locação é feita no planejamento. Ela pode ser um bom negócio em diversas situações, como por exemplo, quando é necessário um equipamento específico ou é preciso ter a expertise ou aplicação da máquina”, contou o gestor de Equipamentos da Barbosa Mello Construtora. Outro fator que viabiliza ou não a locação é o prazo de execução da obra. Entretanto, há contratos que exigem que a construtora utilize equipamento próprio.
Para o fundador da Casa do Construtor, a questão do compartilhamento é fundamental em seu negócio “Temos visto tendências mundiais que mostram que as empresas que não aderirem às ferramentas amigáveis, que facilitem o acesso e a busca pelo equipamento estão fadadas a deixarem o mercado”.
Ampliação ou renovação da frota
A renovação da frota foi um consenso entre os debatedores do Sobratema Webinar. No agronegócio, é uma necessidade, objetivando o aperfeiçoamento da plantabilidade, ou seja, melhorar a eficiência e produtividade para ter um plantio e uma colheita com mais qualidade.
Para Gorgen, após feita a etapa da renovação, com a conquista de um patamar de produtividade melhor, então, pode-se partir para a ampliação. Mas, ele ressaltou que hoje, no mercado, há uma diferença grande no preço de um novo e um usado e, além disso, há uma dificuldade em se vender esse ativo usado, porque os pequenos agricultores também estão em busca de tecnologias mais avançadas.
No segmento da construção, a renovação acontece por vários motivos, como por exemplo, a tecnologia ultrapassada ou a quantidade de paradas para manutenção que é crescente e há um aumento no consumo de combustível. Já a ampliação, conforme disse Schwenk, está mais focada em novos projetos. “É preciso avaliar a aplicação do uso do ativo nos médio e longo prazos. Mas, também, pode ocorrer que haja uma demanda por parte de uma obra em que seja preciso adquirir um novo equipamento, já que a exigência entre clientes públicos e privados é diferente”.
Os equipamentos de menor porte apresentam outra realidade, por terem um ciclo de vida menor. Em 2019, por exemplo, a Casa do Construtor fez investimentos para a aquisição de novos ativos tanto para renovação como para a ampliação de sua frota. “Estávamos com um crescimento médio de 25% ao ano e precisávamos de novos ativos”, disse Arena.
Já Cariani contou que para a Ouro Verde a renovação acontece, porém a ampliação depende bastante do setor de atuação. Ademais, a empresa antecipou a compra de alguns equipamento para ter disponibilidade para atender as demandas de seus clientes.
Mão de obra
Durante o Sobratema Webinar, a questão da mão de obra foi pontuada como uma preocupação pelos quatro debatedores. Na área de locação de equipamentos, Cariani citou duas dificuldades: a retenção da mão de obra qualificada e encontrar alguns profissionais com perfis adequados para funções específicas.
Nesse sentido, Gorgen ressaltou que a nova geração não está interessada em realizar algumas atividades essenciais para o agronegócio, como a operação de máquinas agrícolas. “Infelizmente, não existem programas para formação de pessoas para trabalhar nas fazendas, mesmo em cidades ou regiões onde a agricultura se destaca como principal atividade econômica”, disse.
Schwenk acrescentou ainda que a disparidade social no país também impede, em muitos casos, a formação das pessoas. Desse modo, as empresas precisam, então, capacitar. E isso é feito pela Casa do Construtor. “Acabamos desenvolvendo uma universidade corporativa para a qualificação dos profissionais. A educação, sem dúvida, é importante para melhorar o Brasil. Afinal, profissionais bem treinados e formados são capazes de tomar decisões mais assertivas”, concluiu, Arena.
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