Como proteger a cadeia logística de alimentos do Coronavírus e como usar a crise para repensar o setor daqui pra frente
Por Charlie Conner, co-CEO da Sotran Logística*
Será que estamos preparados para enfrentar uma crise como essa do Covid-19? Temos como manter o supplychain intacto? Como responder às necessidades do transporte de cargas em um momento de pandemia?
No momento atual da crise, a maioria dos setores da economia desaceleraram, outros pararam totalmente, ou por falta de demanda ou por falta de liquidez para tocar a operação ou pela falta de clareza de como o setor deles vai ficar após a crise.
O agronegócio não. Pelo contrário. Neste ano, a produção de grãos e exportações está chegando em patamares recordes. O agronegócio nem pode parar - o Brasil, hoje, em tempos de crise, depende dele. Só que o Coronavírus pegou o Brasil em um momento em que estamos no pico de uma safra recorde. É fundamental nesse momento que o setor rode bem, só que pra isso acontecer é necessária uma atenção redobrada à cadeia de transporte. Ela é frágil, pois depende de muito contato humano e sua linha de frente, os caminhoneiros, são vulneráveis. Muitos deles são grupo de risco nessa pandemia e o sistema tradicional não foi desenhado para esses tempos de Covid-19. E aí está o dilema: como proteger a cadeia de agro e logística, como proteger os 500 mil caminheiros e todas as pessoas no ecossistema de transporte sem comprometer o fluxo dos produtos agrícolas do qual depende a nossa alimentação e a economia brasileira?
O momento é difícil para todos, mas os caminhoneiros são essenciais, principalmente de agora em diante que temos muito volume a ser carregado. E esses profissionais, tão vitais para o funcionamento do País, quando atuam em uma jornada tradicional, esbarram em diversos pontos de contágio do Coronavírus. No formato tradicional, eles precisam parar no posto para procurar carga, esperar em filas nas transportadoras em espaços muitas vezes pequenos e com aglomeração de pessoas, recebem e precisam levar com eles documentos físicos que precisam ser manipulados, entre outras situações. E isso inquieta porque ameaça à saúde. Chegou a hora de nos juntar, como setor e sociedade para repensar como o setor funciona para proteger ele desta crise e das próximas.
E a notícia boa aqui é que, juntos, podemos implementar ações simples, utilizando recursos e tecnologias existentes para minimizar drasticamente o risco no setor.
- Informar e educar motoristas, embarcadores e transportadores sobre as melhores práticas de higiene e distanciamento social. Aqui, a tecnologia pode auxiliar, através do uso de WhatsApp, SMS e outros canais de contato
- com esse público. Nós, como empresa, estamos enviando pushs, mensagens e vídeos com frequência sobre como o motorista pode se proteger.
- Auxiliar os motoristas na proteção, distribuindo álcool em gel e sabonete líquido em todos os locais possíveis e que haja água disponível para a higiene. Um investimento baixo neste sentido pode ter um retorno muito alto.
- Alavancar tecnologias ao máximo para pegar, agendar e formalizar a carga, além de facilitar a transferência de dinheiro do frete, pedágio e as despesas do motorista. Se o motorista utilizar tecnologia para pegar carga, elimina vários contatos físicos. Se recebe pagamento digital, pode eliminar outros contatos. Hoje, não vamos eliminar todo contato humano da jornada mas já existem plataformas para reduzir drasticamente a quantidade de contatos físicos na jornada.
- Possibilitar que embarcadores e transportadoras trabalhem juntos para minimizar a troca de papel entre as partes, os motoristas e postos. Cada papel trocado aumenta o risco de transmissão. Como setor, temos muito a fazer para reduzir a quantidade de papéis trocados de forma desnecessária entre as partes.
- Eliminar o uso de comprovante físico de carga e outros documentos que não sejam estritamente necessários.
- Trabalhar para no médio prazo reduzir a dependência de documentos fiscais no papel (CTE, CIOT, MDF e etc.), apoiando iniciativas para migrar para um documento único digital de frete, o DT-e. A tecnologia de marco legislativo neste sentido existe para reduzir drasticamente a quantidade de papel trocado e o contato humano na cadeia.
No atual cenário que o mundo compartilha, cada dia se torna um novo desafio. O compromisso e a responsabilidade de todos é o que nos fará superar as dificuldades impostas por este inimigo invisível. Eu acredito que se todos nós fizermos esforços dentro das nossas esferas de influência iremos proteger não apenas a cadeia logística de alimentos como também muitas vidas e com certeza sairemos dessa mais fortes e com muitos aprendizados. Mas também, a crise pode ser uma oportunidade única para repensar a cadeia inteira, redefinindo processos e priorizando tecnologias que possam aumentar eficiência, dar uma experiência melhor para os motoristas nas jornadas, aumentar a visibilidade na cadeia para embarcadores e proteger todos da próxima crise.
* Charlie Conner é co-CEO da Sotran Logística, uma das principais transportadoras digitais de cargas que está reinventando a logística no Brasil ao abrir o caminho digital para um futuro melhor dos caminhoneiros com a plataforma TMOV. O app conecta 180 mil motoristas com cargas, em tempo real, com mais de 750 donos de cargas. São mais de 500 mil matches de carregamentos por ano. Conner foi co-fundador e co-head da operação da Arlon Group, fundo de private equity norte-americano, no Brasil. Possui MBA, CFA e um Fulbright Fellow em economia.
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