Futebol e agricultura
*Por Ciro Rosolem, vice-Presidente de Comunicação do Conselho Científico Agro Sustentável (CCAS) e Professor Titular d
a Faculdade de Ciências Agrícolas da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (FCA/Unesp Botucatu)
No ano passado vivemos uma revolução no futebol, com técnicos importados. Interessante que boa parte desses profissionais dizem ter se inspirado no futebol brasileiro de antigamente, historicamente bonito, eficiente, jogando no ataque. Eram dois zagueiros, três meio-campistas e cinco no ataque. Depois, nossos principais técnicos, por inspiração europeia, parecem ter esquecido essa característica, visando somente eficiência, e acabaram montando times retranqueiros e eficientes, mas limitados.
No agronegócio, até certo ponto estamos fazendo o mesmo. Jogando na defesa. Certo que a defesa é sólida, bem construída, fruto de pesquisa e desenvolvimento tupiniquim. Um grande feito, eficiente. Mas, limitada, uma vez que não está sendo suficiente para ganhar o jogo. É que o jogo é dinâmico, muda de um tempo para outro. O mundo parece não ouvir quando dizemos, com razão, que sabemos produzir e preservar. Preferem apontar os dedos sujos para nossas falhas. Então, porque não mudarmos a tática. Jogar no ataque. Mas como?
Algumas iniciativas já aparecem, apostando na rastreabilidade de produtos, produção integrada, certificações internacionais com desmatamento zero. É bom, mas não tem sido suficiente. Vendemos muito, mas precisamos vender melhor. Vender para os países mais ricos, que, coincidentemente, são os mais sensíveis quanto aos problemas climáticos, reais ou não. Já desenvolvemos e usamos tecnologia agrícola inovadora. No campo, estamos no ataque. Quanto à nossa matriz energética, também estamos indo bem, 45% da energia e 18% dos combustíveis que consumimos vem de fontes renováveis. Temos o já tradicional etanol, mais o biocombustível de base florestal e o etanol de segunda geração em avançado estágio de maturação.
Entretanto, um setor que ainda tem muito a desenvolver com resultados fundamentais para a economia e para o ambiente é o florestal. Por exemplo, a substituição de derivados de petróleo por celulose em materiais compostos, os compósitos. A Suzano apresentou um plano de queima da lixivia negra, subproduto extremamente poluente da indústria de papel e celulose, para produção de eletricidade. Outra frente seria a substituição em larga escala do poliéster de petróleo por fibras celulósicas como viscose, mais confortável, ou novas tecnologias como a celulose microfibrilada.
Jogar no ataque. Mais que só vender o que já fizemos, é necessário colocar no mercado global produtos com tecnologia limpa. E dizer isso ao consumidor. Colocar no rótulo. Talvez produtos sejam mais perceptíveis à população que ideias ou estatísticas. Jogar no ataque. Para o Flamengo está dando certo. Não vale a pena tentar no agronegócio?
Sobre o CCAS
O Conselho Científico Agro Sustentável (CCAS) é uma organização da Sociedade Civil, criada em 15 de abril de 2011, com domicilio, sede e foro no município de São Paulo-SP, com o objetivo precípuo de discutir temas relacionados à sustentabilidade da agricultura e se posicionar, de maneira clara, sobre o assunto.
O CCAS é uma entidade privada, de natureza associativa, sem fins econômicos, pautando suas ações na imparcialidade, ética e transparência, sempre valorizando o conhecimento científico.
Os associados do CCAS são profissionais de diferentes formações e áreas de atuação, tanto na área pública quanto privada, que comungam o objetivo comum de pugnar pela sustentabilidade da agricultura brasileira. São profissionais que se destacam por suas atividades técnico-científicas e que se dispõem a apresentar fatos concretos, lastreados em verdades científicas, para comprovar a sustentabilidade das atividades agrícolas.
A agricultura, apesar da sua importância fundamental para o país e para cada cidadão, tem sua reputação e imagem em construção, alternando percepções positivas e negativas, não condizentes com a realidade. É preciso que professores, pesquisadores e especialistas no tema apresentem e discutam suas teses, estudos e opiniões, para melhor informação da sociedade. É importante que todo o conhecimento acumulado nas Universidades e Instituições de Pesquisa seja colocado à disposição da população, para que a realidade da agricultura, em especial seu caráter de sustentabilidade, transpareça.
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