Caixa Cultural São Paulo abre a programação 2022 com individual Barroco Sertanejo, do cearense Stênio Burgos
Ensaio sobre a cegueira, 2020, óleo sobre tela, 97 x 130 cm. (créditos: divulgação)
A Caixa Cultural inaugura, no sábado, 15 de janeiro de 2022, a exposição Barroco Sertanejo, mostra individual do artista cearense Stênio Burgos, com curadoria de Denise Mattar. Elaborada para a Caixa Cultural de São Paulo, com itinerância prevista para Salvador, Recife e Fortaleza, a exposição reúne imagens, poemas e textos, um conjunto de obras que cria uma visão caleidoscópica do pensamento e do percurso do artista, assim como a ressonância de seu trabalho junto ao circuito de arte.
O título da exposição Barroco Sertanejo surgiu de uma conversa entre o artista e a curadora, uma síntese precisa da dualidade de Burgos, criado entre o calor da baianidade de sua mãe e a severidade do sertão cearense. Nas palavras de Mattar: “Seu trabalho reúne o risco duro e a exuberância cromática, a economia do traço e a profusão da tinta, a contenção e o excesso.”
Embora apresente majoritariamente obras realizadas entre 2020 e 2021, a exposição se reveste de um caráter retrospectivo, pois alinha em conjuntos as principais pesquisas do artista. Assim, podem ser vistas suas paisagens de 2003 a 2021, elaboradas através de uma pintura-desenho delineada em traços rápidos e vigorosos, construídos com espessa materialidade. São riscos e rabiscos saídos do tubo de tinta, que se projetam sobre o fundo, criando uma espécie de baixo-relevo, dando à paisagem dinamismo e leveza.
Outra vertente de sua produção é a pesquisa sobre a linguagem da cor, que resulta em intrigantes escalas cromáticas, quase instalações, constituídas por conjuntos de pequenas pinturas ou grandes painéis de tecido, formando graduações colorísticas precisas ou acasos que se transformam em constelações.
A forte influência da Holanda, país no qual Stênio morou por longos períodos entre 2004 a 2019, também se faz presente na mostra, através do desafio que o artista fez para si mesmo de pintar buquês de flores da estação, um a cada semana, mês a mês, uma pesquisa que se transformou numa constante de sua produção. A esses buquês, Stênio acrescenta, com frequência, os símbolos de fé da nossa gente: imagens devocionais e santos protetores, Jesus e Maria, São Jorge e Iemanjá, deuses ibéricos e africanos. Uma mistura improvável do sincretismo brasileiro e o colorido floral europeu, com traços de nostalgia e lirismo.
A exposição se encerra com as Cartas do Confinamento, produzidas em 2020, quando Stênio se isolou na sua casa na praia de Amontada. Um forte momento de reflexão sobre a solidão e a finitude humanas, que podem ser vistas nas séries A Invenção da Solidão e Ensaio sobre a Cegueira.
SOBRE O ARTISTA
José Stênio Burgos de Macedo nasceu em Crateús, Ceará, em 11 de abril de 1954, filho do médico cearense Francisco Sales de Macedo e da baiana Sonia Belo Burgos. Desde criança, gostava de desenhar, vindo daí sua opção por estudar Arquitetura, que cursou na Universidade Federal do Ceará, em Fortaleza. Ainda como estudante, viajou para Paris, onde visitou os museus, impregnando-se de arte. Na volta, começou a trabalhar no Banco Central e, após sua formatura, em 1978, conseguiu uma transferência para o Rio de Janeiro.
Nesse período, teve intensa convivência com artistas como Paulo Roberto Leal e Alex Vallauri, entre outros. Assistiu à luta pela mudança política, a agitação, o frenesi e a festa da Geração 80, mas nada daquilo combinava com seu trabalho. Pediu demissão em 1982 e voltou para o sertão. Foi um momento de recolhimento, de busca interior. Um movimento de solitude que repetiria algumas vezes em sua vida, como um recurso de renovação.
De volta ao Rio, participou, como arquiteto, de um grupo de estudos prospectivos sobre futuros possíveis, organizado pelo Clube de Roma. Na contramão das formulações acadêmicas, Stênio Burgos apresentou suas reflexões sob a forma de um caderno contendo desenhos, poemas e pensamentos, ao qual deu o nome de Realtopia. Uma proposta de unir realidade e utopia, sem ocultar fatos ou criar fantasias. Nas páginas do caderno, estão contidas observações afetivas, diagnósticos sensíveis e considerações sobre a sociedade de consumo, que é vista como um circo e descrita com humor rascante. A proposta lhe rendeu um convite para estudar em Barcelona, onde permaneceu por três anos.
De volta ao Ceará, em 1987, conviveu estreitamente com a arte através do olhar sensível da amiga Myra Eliane. Nesse período, sua criatividade se expressava na arquitetura, na criação de interiores, no garimpo de objetos e na seleção de obras de arte. A busca pelo raro e exclusivo o leva ao extremo sul do país, onde teve fundamental encontro com o mestre Iberê Camargo e sua pintura forte, densa, carregada de presságios, prenhe da energia das tintas que se acumulam jorrando diretamente do tubo. Em 1998, aconteceu a ruptura e a epifania. Stênio saiu da cidade e isolou-se na praia. Levado por uma paixão, mal sabia que viria a ser subjugado por outra, mais poderosa, mais absorvente e mais imperativa: a pintura.
Em 2004, o artista apresentou sua primeira grande exposição individual, “Terras e Céus”, na Galeria Tina Zappoli, em Porto Alegre. Desde então, participa do circuito cultural cearense e holandês. Entre suas exposições individuais, destacam-se “Os Jardins de Nice por Stênio Burgos”, Museu do Ceará, 2006; “Stênio Burgos (Brazilië)”,Centre for Latin American Research and Documentation, Amsterdã, 2009; “Colorido Rozengracht”, Galerie Overstrom, Amsterdã, 2015; “Sertão Holandês”, Museu do Ceará, 2017; “Manuale di Calligrafia e Pittura, Centrum Sete Sóis Sete Luas, Pontedera, Itália, 2018; “À Flor da Pele”, Museu de Arte da Universidade Federal do Ceará, MAUC, 2019; Realtopia – exposição individual retrospectiva, Espaço Cultural Unifor, Fortaleza, 2020.
STÊNIO BURGOS - BARROCO SERTANEJO
Caixa Cultural São Paulo
Abertura: 15 de janeiro
Período expositivo: de 15 de janeiro até 3 de Abril de 2022
Endereço: Praça da Sé, 111 – Centro Histórico, São Paulo
Horário: de terça a domingo, das 10h às 18h
Informações: (55) 11 3321-4400
Itinerância:
- Caixa Cultural Salvador – de 18 de abril a 19 de junho
- Caixa Cultural Recife – de 4 de julho a 11 de setembro
- Caixa Cultural Fortaleza – de 26 de setembro a 20 de novembro
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