Participantes do Festival das Cataratas conhecem potencial do mercado halal com Ali Saifi
Setores do turismo se preparam para atender as exigências halal, mercado que até 2024 deve movimentar anualmente cerca de US$ 3,2 trilhões no mundo
Por Vacy Álvaro de Foz do Iguaçu
A importância do mercado halal e seus costumes foi apresentada nesta quinta-feira (2) ao público do Festival das Cataratas, um dos maiores eventos de turismo do Brasil, que está ocorrendo em Foz do Iguaçu (PR). Quem trouxe mais detalhes sobre o tema foi Ali Saifi, CEO da Cdial Halal, uma certificadora acreditada pelos principais órgãos oficiais do mundo.
A temática ganha uma relevância ainda maior quando se trata de Foz do Iguaçu, que em breve deve se tornar a primeira cidade turística da América Latina com atrativos halal, conceito amplo que vai além da alimentação, permeando também comportamentos, vestuário, modo de falar, entre outros aspectos. Os primeiros passos para o processo de certificação foram dados na Expo Dubai 2020, por meio de um trabalho conjunto entre a Cdial Halal, a Câmara de Comércio Árabe-Brasileira e o Governo do Paraná.
Em sua apresentação no Festival, Ali Saifi explicou ao amplo público-alvo do evento como os estabelecimentos hoteleiros, comerciais e de serviços devem se preparar para receber os turistas dentro do conceito halal, citando aspectos como regras de etiqueta, ambientes e cosméticos. Ele também trouxe dados do mercado halal global, que até 2024 deve movimentar anualmente cerca de US$ 3,2 trilhões nas mais diversas atividades. Atualmente, o Brasil se destaca como líder mundial na produção e exportação de proteína animal halal.
Além da palestra, o Festival das Cataratas marcou um importante passo concreto na busca de Foz pela certificação. O evento sediou a primeira reunião de um grupo de trabalho focado em tratar a cidade como destino halal. Sob a coordenação do Conselho Municipal de Turismo (COMTUR), o grupo conta com representantes de diversas entidades da sociedade civil.
“Com Foz do Iguaçu houve uma pressa muito grande em tornar o acordo uma realidade. Uma vontade e um engajamento dos setores nunca vistos. Geralmente este tipo de acordo demora anos, e aqui estamos falando de dias e semanas”, destacou Ali Saifi.
Durante a reunião histórica, Ali Saifi reafirmou o apoio da Cdial Halal na promoção de treinamentos específicos sem custos para os interessados em se aprofundar no tema. O presidente do COMTUR, Yuri Benites, garantiu que o tema será discutido com muita seriedade. “Vamos definir processos, levantar instituições, mas a autoridade da religião sempre será respeitada”. O próximo passo do grupo é a definição de um cronograma de atividades a serem executadas nos próximos meses.
“Como em Foz do Iguaçu já existe uma comunidade muito grande, era importante se organizar e mostrar para o mundo a capacidade que a cidade tem de receber da melhor forma possível o turista muçulmano. Somos dois bilhões de muçulmanos no mundo, e a grande maioria não veio para Foz. Precisamos apresentar Foz para eles, e para isso precisamos treinar todo o setor afim de receber bem essa comunidade”, complementa Saifi.
Apoio das autoridades
A busca pela certificação halal é um consenso entre as autoridades municipais, estaduais e federais. O vice-governador do Paraná, Darci Piana, acredita que o conceito possa chegar a outras regiões do estado. “O turismo halal pode trazer grandes investimentos e gente de muito poder econômico, e isso está progredindo começando por aqui, o que é muito bom para o Paraná e para o Brasil”.
Em passagem pelo Festival das Cataratas, o embaixador da Palestina no Brasil, Ibrahim Alzeben, ressaltou que a certificação pode ser um pontapé inicial para algo mais amplo, envolvendo outros países. “A cultura halal está sendo expandida em diferentes partes do mundo, e em Foz ganha ainda mais importância, porque pode servir para um triângulo de três países (Brasil, Paraguai e Argentina)”. Para o presidente da Invest Paraná, Eduardo Bekin, “quanto mais segmentar o turismo, melhor é. Estamos no caminho certo”.
Mobilização em Foz do Iguaçu
Foz do Iguaçu conta com a segunda maior colônia árabe-muçulmana do Brasil, com cerca de 25 mil representantes. Para atrair este público, que atualmente representa um terço da população mundial, a cidade está se mobilizando para a certificação halal.
Para Paulo Angeli, secretário de Turismo, Projetos Estratégicos e Inovação de Foz do Iguaçu, se adaptar ao conceito halal “é respeitar a diversidade, a cultura, a religiosidade de todos. Por receber tantas nacionalidades e culturas, Foz deve estar preparada para isso”. O secretário também ressaltou que todos os estabelecimentos do destino que demonstrarem interesse em se adaptar ao mercado halal serão ajudados e treinados.
O prefeito de Foz, Chico Brasileiro, reforça que, desde que foi assinado o protocolo com a Cdial Halal e a Câmara de Comércio Árabe-Brasileira já houve grandes avanços em relação ao tema. "Estamos com todos os esforços para que esse projeto saia rapidamente do papel. Existe um grupo de trabalho debruçado no tema, para que, muito em breve, a cidade possa receber a capacitação necessária para receber os povos árabes da forma mais acolhedora possível", ressalta o prefeito.
O presidente do Conselho Municipal de Turismo (COMTUR), Yuri Benites, pontua que essa busca pela hospitalidade faz parte do slogan muito utilizado pela cidade: Foz Destino do Mundo. “Para nós, essa certificação como destino halal traz muito além da ampliação de novos visitantes, mas consolida essa busca por fortalecer a imagem de Foz do Iguaçu como destino do mundo. É uma estruturação que não nos exigirá muitos investimentos e nos trará muitos benefícios”.
Um pouco mais sobre “halal”
No idioma árabe, a palavra “halal” significa lícito, permitido, de acordo com as regras estabelecidas pela Lei da Jurisprudência Islâmica (Shariah) que rege os costumes dos muçulmanos. O halal para os muçulmanos significa todo o modo de vida deles.
Para atender aos costumes, os hotéis, restaurantes e lanchonetes, por exemplo, precisam começar a pensar em ambientes diferenciados para atender aos muçulmanos. Toda a alimentação a ser servida deve ser separada, para que não haja contaminação cruzada.
Além disso, devem preparar instalações especiais, para que o muçulmano possa realizar suas cinco orações diárias. No quarto, é interessante que o estabelecimento indique a direção da Kiblan (direção para Meca, para o muçulmano direcione suas orações). Deixe sempre um Alcorão, tapetes e horários de oração disponíveis nos quartos, além de um frigobar sem bebidas alcoólicas e canais de tevês árabes são bem-vindos. E toda a comida a ser oferecida deve ser halal.
Esta comunidade não pode consumir nenhum alimento que contenha derivado do porco e nem bebida alcoólica. É haram, ou seja, proibido.
Para que as mulheres se sintam mais à vontade, é importante que o hotel ofereça trajes, para que elas se cubram enquanto estiverem na piscina ou spas. Reserve um horário específico para as muçulmanas frequentarem este local.
A muçulmana adora se maquiar. Gastam fortunas com produtos cosméticos, mas para que possam consumi-los devem ter a certificação halal. Há muitos cosméticos produzidos no Brasil a partir de matéria-prima suína e bovina. A suína é totalmente proibida para consumo muçulmano. Agora se a matéria-prima for bovina, todo o processo de alimentação e abate devem ser halal.
As mulheres podem se cumprimentar com beijos e abraços. Os homens na maioria das vezes se beijam no rosto. Mas o homem não pode beijar uma mulher. Como forma de respeito, o homem deve cumprimentar uma mulher muçulmana com sua mão direita sobre o lado esquerdo de seu peito. É a forma mais educada e respeitosa. Detalhe: em hipótese alguma a mulher pode dar a mão para o homem.
Evite o contato visual direto ou fixo com o sexo oposto. Para eles, o olhar revela sinais de interesse, atenção, intimidade, etc. Utilize sempre roupas que cubram o ombro e os joelhos. Shorts e saias curtas não bem vistos pelos muçulmanos.
Mercado halal
No mundo, a comunidade árabe-muçulmana é de 1.8 bilhão e até 2024 a expectativa é faturar US$ 3,2 trilhões com este mercado: alimentos e bebidas (exceto alcoólicas), comida, turismo, cosmético, fármaco, entre outros.
Estabelecimentos certificados – O CEO da Cdial Halal explica que o próximo passo do projeto é a certificação dos locais como um destino halal. “Com a certificação, o turista terá a tranquilidade em relação à qualidade, confiabilidade e rastreabilidade do produto ou serviço que esteja consumindo”, destaca Ali.
“A receptividade de todos os envolvidos foi melhor do que esperávamos. Todos estão empolgados com este projeto e as possibilidades que tendem a beneficiar tanto os turistas árabes-mulçumanos, que se sentirão ainda mais acolhidos e atraídos por Foz do Iguaçu, como a movimentação do turismo e, consequentemente, da economia da região”, pontua Ali.
Sobre o acordo - O protocolo assinado em Dubai entre o município de Foz de Iguaçu e a Câmara de Comércio Árabe-Brasileira foi intermediado pela Cdial Halal e Grupo Invest Paraná, com apoio do governador do Paraná, Carlos Massa Ratinho Junior. O protocolo prevê treinamento de equipes para abordagem e atendimento adequados a este público, com capacitação que envolve a alimentação halal, questões culturais, dentre outros.
Sobre a certificação halal - A certificação Halal atesta a qualidade da produção, da confiabilidade, da rastreabilidade e do cumprimento dos requisitos de segurança em todo o seu processo. Abrange desde a matéria-prima, todo o processo de produção, higienização, rastreabilidade, armazenagem e transporte. Pode ser aplicada a qualquer categoria de empresa, por exemplo, pecuária, agricultura, serviços de alimentação (hotéis e restaurantes), transporte, têxtil, indústria química e bioquímica, embalagens, cosméticos, produtos de origem animal perecível ou de longa vida, transporte e armazenagem, dentre outros.
Cdial Halal - É uma das certificadoras da América Latina acreditada pelos principais órgãos oficiais dos Emirados Árabes (EIAC) e do Golfo (GAC), o que confere seriedade e competência nos segmentos que atua. Também é a primeira da América Latina a conquistar a categoria “N” para cosméticos e fármacos. Esta certificação é aceita em todo o mundo, inclusive nos países de maior população muçulmana como Malásia, Indonésia, Singapura e Golfo Pérsico (ou Golfo Árabe).
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