Papel dos aplicativos para o sono é tema de live da APM Estadual
O otorrinolaringologista George do Lago Pinheiro participou do terceiro “SleepTalks” da Associação Paulista de Medicina, série de lives no Instagram para esclarecer dúvidas a respeito da Medicina do Sono, especialmente em tempos de pandemia de Covid-19. Os aplicativos para o sono foram o foco da edição.
Doutorando pela Universidade de São Paulo, em Validação clínica de um dispositivo para exame de monitoramento digital da apneia obstrutiva do sono, o pesquisador explica que o interesse pelo assunto surgiu em meio à revolução tecnológica que a Medicina do Sono tem vivenciado nos últimos anos.
“Muitos pacientes chegavam ao consultório orientados por aplicativos dizendo que a qualidade do sono não estava boa. Não sabia de onde vinha aquele aplicativo e o que fazer com aquela informação. Comecei a buscar na literatura médica a revolução tecnológica e as dificuldades na prática clínica com esses novos dispositivos”, comenta.
Hoje, com milhões de aplicativos disponíveis na área de Saúde, Pinheiro ressalta, em primeiro lugar, a importância de o profissional avaliar a validação científica da ferramenta. “Especificamente quando falamos de sono, há diversas promessas desses aplicativos para analisar movimentos periódicos de membros, apneia, o ritmo biológico, entre outras múltiplas situações. Mas o que temos de verdade em tudo isso? Boa parte desses apps são cadastrados pelo FJ nos Estados Unidos como entretenimento. Isso quer dizer que eles não precisam passar por uma validação clínica, ou seja, 90% deles não têm um método científico. Isso gera um problema sério para a área da Saúde porque são de fácil acesso e têm um apelo comercial muito grande”, alerta.
O especialista compara os aplicativos ao padrão de análise habitual e confiável de polissonografia, na qual o paciente dorme em um laboratório para ser monitorado durante à noite, com a avaliação das ondas eletroencefalográficas e respiratória. “A pessoa pode pensar: ‘Para que vou fazer esse exame se tenho um aplicativo que posso monitorar até as minhas fases do sono?’ Diante desses casos, há uma situação de conflito com os métodos eficazes de padrão ouro”, reforça.
Aplicativos confiáveis e dicas
Ao se debruçar sobre a teoria, Pinheiro informa que os programas de software mais confiáveis têm vínculos com universidades. “É uma tendência mundial e diversos órgãos sérios têm feito aplicativos para monitorizar a população dentro de uma determinada área da Saúde; têm vínculos com universidades ou passaram por algum critério de validação. Por isso, muitas vezes, ao baixarmos um app, é importante não desprezar aquelas letras pequenas para entender de onde vêm aquelas informações.”
Ele exemplifica dizendo que os apps relacionados à higiene do sono, vinculados a universidades sérias, são ferramentas significativas de análise; agem como se fosse um diário, sugerindo ao paciente mudanças específicas para ter melhor qualidade de descanso.
Pinheiro ainda orienta os profissionais da Saúde a buscarem informações sobre a confiabilidade do aplicativo, se realmente cumpre o que promete. “Temos apps para tudo, inclusive celular que vibra quando o paciente está roncando, como forma de tratamento, mas sabemos que isso não é adequado, essa é primeira lição. A segunda é se seu paciente chega ao consultório e traz informação sobre um dado programa e você desconhece, seja claro com ele, diga que irá buscar mais informações sobre.”
O especialista reforça que, embora seja um processo atual difícil de frear, o médico precisa entender e adequar-se a essa realidade. “Acredito que daqui a cinco anos, essas informações serão coletadas em um gigante banco de dados de monitorização diária do prontuário do paciente. E a questão que se levanta é: quem será o dono dessas informações? Isso me preocupa porque não sei se serão utilizadas para fins benéficos.”
Os encontros on-line são organizados e coordenados pela médica Andrea Toscanini, presidente do XVIII Congresso Paulista de Medicina do Sono.
“Sempre tive uma visão muito avessa sobre os aplicativos, mas se opor a eles não é o caminho porque a tecnologia está aí. No entanto, jamais podemos renunciar a uma consulta com profissional da área médica quando falamos de uma doença. É diferente de quando falamos de promoção à saúde, qualidade de vida, guias que contribuem para criar hábitos saudáveis. Representa risco à saúde? É imprescindível um acompanhamento com especialista para evitar danos e consequências. O aplicativo pode ser adjuvante, mas jamais substituir a atuação do médico”, conclui.
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