Professor explica as diferenças entre colonização de povoamento e a colonização de exploração e como elas se refletem atualmente
É comum que o brasileiro sonhe com uma viagem à Disney ou Nova York do que ficar propriamente em seu país admirando o Cristo Redentor. Do ponto de vista popular, será que os Estados Unidos é um lugar bem mais atrativo do que o Brasil? Professor Ueldison Azevedo mostra se isso é verdade e mostra como este sentimento de colonização ainda impera na atualidade.
A história do Brasil remonta a um passado que talvez responda a esta pergunta: Por que motivo olhamos os Estados Unidos com tanto charme e por que não temos o melhor olhar para o Brasil? O professor de história Ueldison Alves de Azevedo explica que “esta visão que temos remonta a nossa colonização entre o século XV e XVI, pois a América Central (mesoamérica), América do Sul, o continente africano e até mesmo os povos asiáticos tiveram uma colonização diferente dos norte-americanos”.
Essa diferença é denominada pelos historiadores de colonização de povoamento e colonização de exploração. O professor conta que “quando Colombo decide atravessar o mar e conquistar as Índias, o que era um pensamento bem comum para aquele período, ele acreditava que o ar daquele solo era semelhante ao europeu. Isso não significa que não houve exploração da terra e escravidão, porém no primeiro momento a ideia era apenas povoar aquele local, e sim, já existiam povos diferentes antes mesmo da chegada da corte aos Estados Unidos”. No entanto, “esse processo de exploração de minérios como chá por exemplo, e a escravidão, é um pouco mais lento e demorado quanto comparado aos continentes que tiveram uma colonização exploratória”.
Ueldison lembra que, ao chegar na África, por exemplo, “por motivo ‘racial’ (linguagem utilizada pelos europeus para justificar a divisão da África em sua partilha de 1884), a cor da pele colocava os afros como objetos uma ‘coisificação’ que pertencia agora à metrópole. Tudo que era da colônia fazia parte do domínio europeu, não foi diferente dos Astecas até os Incas e chegando ao Brasil”.
Então, quando observamos dois monumentos, como a Estátua da Liberdade, que foi um presente da França aos americanos logo após sua independência, ou o Cristo Redentor, que foi construído durante a era de Getúlio Vargas, o historiador ressalta que “estamos mostrando como a colonização influenciou fortemente nas identidades nacionalistas como povo”. O fato é que, ele completa, “os portugueses ao chegar no Brasil em 1500, mesmo com o tratado de Tordesilhas assinado em 1494, acaba criando laços com os povos indígenas, onde começa de maneira progressiva o processo para a exploração de nossas terras, mesmo que de imediato esta atividade vai demorar uns 30 anos para ser amadurecida”. Afinal, o historiador recorda, “o Brasil não era de primeiro momento os olhos da menina de Portugal, mas a conversa com os indígenas ainda permanecerá. Durante o período, houve tribos que aceitaram fazer uma ‘concordata’ com os portugueses e outros rebeldes que serão escravizados e outros tantos fujões que darão trabalho aos bandeirantes, enquanto outros índios terão aulas com os padres jesuítas, aqueles que na Europa foram criados para inquisição e assim por diante”.
Dessa maneira, o professor afirma que fica fácil compreender essa mentalidade ainda presente. Um exemplo disso é observado na virada do Império para República em 1889. Ueldison conta que o então ministro da Fazenda do governo de Marechal Deodoro da Fonseca, Rui Barbosa, “foi responsável por criar a bandeira do Brasil igual dos Estados Unidos. Essa medida durou menos de um dia em vigor, mas mais interessante é que o nome oficial do Brasil até a década de 1960 era ‘Estados Unidos do Brasil”. Somente após 1968 e com a constituição de 1988, o professor salienta que o Brasil passou a ser uma República Federativa (união dos estados).
Ueldison Azevedo acredita que todos estes argumentos mostram como “o imaginário dessa forma de colonização não é de apenas uma classe social, mas sim de um todo, pois a maneira que foram feitas as colonizações afetou drasticamente como pensamos e como somos hoje”, finaliza.
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