Debate sobre retorno das aulas oferece oportunidade para perseguir metas da Educação Profissional
Por Cesar Silva (*)
O ano de 2020 começou trazendo a expectativa de que pudesse representar o marco de um momento de transição muito importante para a educação básica brasileira. Após a promulgação de duas grandes reformas estruturais, havia a esperança de que os sistemas públicos estaduais e municipais estivessem se preparando para desenvolver a grande implantação das mudanças propostas sendo que um de seus principais focos era um salto de qualidade e quantidade no que se refere à Educação Profissional.
Só para lembrar, as duas reformas em questão foram a Base Nacional Comum Curricular em 2017 e a Reforma do Ensino Médio em 2018. Elas trazem como base principal a contextualização dos conteúdos a serem desenvolvidos, com o objetivo de assegurar que os alunos não só conheçam e lembrem dos ensinamentos, mas também passem a entender melhor suas aplicações e, com isso, possam extrapolar o espaço de aprendizado, utilizando os conhecimentos na vida real.
Um dos maiores avanços se dá no sentido de que a parte específica do aprendizado seria escolhida pelos alunos para que, por opção, eles mesmos definissem uma trajetória de estudos que os motivassem e assegurasse sua aplicação no plano de vida do próprio estudante.
As consequências derivadas destas duas reformas pareciam estar articuladas de maneira a contribuir para o atingimento de metas declaradas no Plano Nacional de Educação, em especial duas delas que são:
· Meta 10: oferecer, no mínimo, 25% das matrículas de educação de jovens e adultos, nos ensinos fundamental e médio, na forma integrada à educação profissional.
· Meta 11: triplicar as matrículas da educação profissional técnica de nível médio, assegurando a qualidade da oferta e pelo menos 50% da expansão no segmento público.
Embora pareça contraditório, o advento da pandemia, do isolamento social e a total paralização das aulas em todas as redes estaduais e municipais de educação, oferece uma oportunidade ainda maior para que a retomada seja feita já estruturada no novo modelo de educação contextualizada e que permita uma terminalidade de mercado para os alunos do ensino médio.
Isto porque da mesma forma que o isolamento social paralisou, ele também permitiu a realização de estudos de contextualização e propostas mais disruptivas de disponibilização de conteúdos para a retomada.
E estes trabalhos mostram que nada seria mais adequado do que uma educação contextualizada, com saberes aplicados a fazeres e que assegure maior grau de aplicação dos conhecimentos e de empregabilidade aos concluintes do ensino médio.
Só para ilustrar, o IBGE revelou em relatório publicado no último dia 15 de julho, ou seja, considerando dados de antes mesmo da pandemia, que 60% dos jovens que concluem o ensino médio interrompem os estudos para ir trabalhar.
Neste momento de retomada das atividades, em um patamar econômico financeiro mais baixo, as empresas precisam de jovens capacitados e com valor de mercado para contratação em patamares de salários, declaradamente, mais baixos, em nível de técnicos habilitados e não de graduados sem experiência.
Mais uma vez, e desde sempre, a educação profissional se mostra presente como a grande solução para atender um novo mercado que precisa se reconstruir, se reinventar. A profecia da Educação Profissional volta a rondar os setores da educação e do mercado produtivo como a grande solução. Que se realize!
* César Silva é diretor Presidente da Fundação de Apoio à Tecnologia (FAT) e docente da Faculdade de Tecnologia de São Paulo – FATEC-SP há mais de 30 anos. Foi vice-diretor superintendente do Centro Paula Souza. É formado em Administração de Empresas, com especialização em Gestão de Projetos, Processos Organizacionais e Sistemas de Informação.
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