A escola está formando “novos” cidadãos?
Crédito Divulgação
É ousado pensar no futuro, mas necessário, quando refletimos sobre que cidadãos estamos formando, enquanto professores de crianças ou adolescentes. O que a nova sociedade esperará do ser humano daqui a alguns anos? Que habilidades precisamos desenvolver nos estudantes da Educação Básica para que eles estejam aptos a viver, conviver e tomar decisões acertadas no futuro?
Temos lido sobre o novo normal e sobre as adaptações que a crise vivenciada pela pandemia do coronavírus trará. Também já se discute sobre os impactos no mercado de trabalho, nas profissões e no modo de viver. Estima-se que novas profissões surjam e a maneira de trabalhar também se altere. O home office pode se tornar definitivo e a mobilidade humana pode ser significativamente alterada. Todas essas suposições e possibilidades convergem em um ponto: mudanças.
Ao longo da história, grandes crises, guerras ou revoluções foram causando mudanças no modo de vida do ser humano. O desenvolvimento científico e tecnológico alterou a forma do homem se comunicar e se informar. O mercado de trabalho também experimentou transformações contínuas no caminhar da sociedade. Mas a escola, embora tenha tido sutis transformações, acabou insistindo em um modelo mais tradicional, com aulas expositivas, alunos enfileirados e foco em conteúdo.
O momento é de reflexão. Focar apenas em conteúdos garantirá que os estudantes desenvolvam as competências e habilidades que serão solicitadas deles no novo normal? Insistir em modelos tradicionais de ensino realmente contribui com a atuação desses estudantes na sociedade contemporânea?
Se pensarmos nos jovens adultos atuais e no conhecimento que eles possuem sobre ciências e matemática, podemos considerar que o sistema educacional dos anos 1980 ou 1990 foi eficiente? Temos percebido a dificuldade dos pais em auxiliar os estudantes com os conteúdos, agora que experimentam o ensino remoto. Nesse sentido, é possível imaginar que um ensino tradicional e focado em conteúdo não possibilitou uma aprendizagem significativa, já que muitos pais têm precisado de auxílio até em conceitos das séries iniciais. Ainda focando nesses adultos, quantos deles fazem afirmações equivocadas sobre ciências? Quantos deles, diante de uma doença tão cruel quanto à Covid-19, têm realmente respeitado o isolamento social e contribuído com o próximo?
Que tipo de ser humano desejamos para o futuro? Se não for possível sairmos pessoas melhores dessa crise, que nossa sociedade seja melhor no futuro. Então, o caminho é pensar na educação das crianças, dos adolescentes. E a escola faz parte desse processo. Por isso, considero importante que, nessa fase, toda a comunidade escolar se reúna para refletir e discutir sobre o que precisa ser mudado para que a preparação dos estudantes contribua para que eles desenvolvam as habilidades necessárias para o novo normal.
Algumas dessas habilidades já vinham sido discutidas mesmo antes da pandemia: criatividade, capacidade de resolver problemas, trabalho em equipe, versatilidade. Hoje, percebemos que muitas outras habilidades são bem-vindas: empatia, respeito, tolerância, alteridade. Além disso, notamos a importância de um amplo conhecimento a respeito das tecnologias digitais. Outro aspecto importante se refere à criticidade diante de tantas informações disponíveis na internet. Por isso, a escola precisa sim focar em conteúdo, pois eles são extremamente importantes. Somente com conhecimento científico, o cidadão pode realmente tomar as melhores decisões. Mas, mais do que nunca, notamos uma urgência em ir além, em se preocupar com um completo desenvolvimento do estudante, com valorização de suas características individuais, com desenvolvimento de inteligência coletiva e com criação de possibilidades para que muitas e novas habilidades sejam desenvolvidas.
Que nossa futura sociedade seja melhor, sem crise, sem vírus, com cidadãos com conhecimentos e habilidades suficientes para uma vida digna. E que nós, professores, tenhamos orgulho de ter contribuído com a formação desses novos cidadãos.
Autora: Profa. Me. Flavia Sucheck Mateus da Rocha é docente na área de Exatas da Escola Superior de Educação do Centro Universitário Internacional Uninter
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