Diante de falta de mão de obra, construtoras investem em capacitação interna
De acordo com a Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), 77% das empresas do setor encontram dificuldades para contratar. Empresas do setor investem em cursos de capacitação dentro do próprio canteiro para suprir demandas
Apesar da queda do Produto Interno Bruto (PIB) de 6,3% em 2020, o setor voltou a apresentar um forte crescimento de 9,7% no ano passado, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Esse crescimento também se traduz em novos lançamentos e, consequentemente, mais empregos gerados pelo setor. De acordo com dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), foram gerados mais de 75 mil empregos na construção civil entre janeiro e março deste ano. Somente em Goiás, o saldo positivo foi mais de quase 4 mil empregos.
A tendência é de que esses números continuem crescendo ao longo dos próximos meses em razão dos lançamentos feitos no ano passado, segundo explica o presidente do Sindicato da Indústria da Construção do Estado de Goiás (Sinduscon-GO), Cezar Mortari. “Entre junho e julho, cerca de 50 novas obras devem ser iniciadas, o que totalizará cerca de 100 canteiros de obras ativos em Goiás. Isso representa mais de 5 mil novos empregos surgindo”, calcula.
Algumas dessas vagas vão surgir nos canteiros de obras da GPL Incorporadora, que está com seis obras em andamento na capital. De acordo com o gerente técnico de engenharia da construtora, Daniel Franco, serão criadas cerca de 100 vagas na empresa nos próximos 4 meses, número que pode aumentar ainda mais até o final do ano. Apesar dessas novas demandas, Daniel destaca que o setor tem encontrado dificuldades para encontrar mão de obra.
“Antes, sentíamos a falta de mão de obra de profissionais que necessitavam de mais qualificação, como carpinteiros e eletricistas. Hoje, a falta já atinge profissões que não necessitam de tanta capacitação, como os ajudantes. Com o aumento de lançamentos das construtoras, a tendência é de que o cenário fique ainda pior”, destaca Daniel.
Diante desse cenário, empresas do setor têm buscado alternativas para superar a falta de mão de obra qualificada no canteiro de obras. A GPL, por exemplo, está formando cursos de capacitação para proporcionar oportunidades de crescimento para os trabalhadores e, consequentemente, atender as demandas das obras. O engenheiro civil Wesley Ricarte, idealizador do projeto, destaca que a iniciativa deve formar grupos para capacitação de acordo com o estágio da obra, com encontros aos sábados.
“A primeira turma a ser formada será de eletricistas e deve seguir por cerca de 2 meses. O intuito é dar oportunidade para que os serventes tenham conhecimento teórico e prático da função, recebam as orientações sobre os nossos procedimentos internos e, com isso, tenham capacidade para atuar dentro do canteiro de obras”, detalha Wesley. “Para o funcionário, é importante porque pode ganhar duas ou três mais do que recebe hoje, além de adquirir novos conhecimentos. Por outro lado, nós conseguimos fidelizar esse trabalhador para continuar conosco”, completa.
*Desafios*
De acordo com a Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), 77% das empresas do setor encontram dificuldades para contratar, principalmente em funções como carpinteiros, pedreiros, mestre de obras e pintores. Esse cenário de dificuldades fez com que empresas buscassem alternativas para atender às crescentes demandas do setor.
O presidente do Sinduscon Goiás, Cezar Mortari, acredita que esse cenário de escassez tem se intensificado diante da migração da mão de obra para a informalidade ou trabalhando como microempreendedor individual. “Atualmente, somos mais de 6,9 milhões de trabalhadores na construção civil, mas apenas 2,4 milhões atuam com carteira assinada. Os demais estão trabalhando como MEIs ou na informalidade. Assim, um dos grandes desafios é melhorar a renda desses trabalhadores para recompor as perdas e ter mais ganhos reais”, avalia Mortari.
Visando justamente criar melhores condições de salário para os funcionários e formar mão de obra qualificada no canteiro, a Consciente Construtora e Incorporadora também passou a adotar a estratégia de qualificar profissionais dentro do canteiro de obras em Goiânia. A empresa montou uma sala de aula dentro da obra do World Trade Center (WTC) Goiânia, onde já formou oito armadores no primeiro curso de capacitação finalizado em abril. Outros 12 estão participando do curso de carpinteiros e ainda será aberta uma turma para pedreiro nos próximos dias. As aulas estão sendo ministradas em parceria com o Senai de segunda a quinta-feira, das 17h30 às 19h30, e em dois sábados por mês
“Para os trabalhadores é uma excelente oportunidade de aumentar o rendimento salarial, trabalhando o mesmo período com menos esforço físico e conquistando mais oportunidades de crescimento dentro da empresa. Tudo isso apenas com a força da vontade, já que o curso é gratuito para os colaboradores”, destaca o coordenador de educação de construção civil do Senai, Anderson Claiton Martins.
Um dos participantes do curso é o ajudante de armador Sebastião Alysson Ribeiro da Silva, de 26 anos, que aproveitou a oportunidade para buscar melhorar o salário e alcançar novos cargos dentro da empresa. “Eu fiquei sabendo dessa chance com o encarregado de armador e resolvi aproveitar porque o curso é gratuito e pode abrir novas oportunidades por meio do conhecimento. No dia a dia, já aprendemos muitas coisas, mas agora temos o conhecimento teórico”, destaca Sebastião, que está na Consciente há menos de um ano.
Em abril, a construtora entregou o certificado de carpinteiro para oito colaboradores do WTC Goiânia. Segundo o coordenador de responsabilidade socioambiental da Consciente, Felipe Inácio Alvarenga, a iniciativa surgiu com a criação do selo social em 2021, que destina um percentual do VGV dos empreendimentos para investimento na capacitação dos colaboradores. O projeto também vem como uma extensão do Projeto Ensino Consciente, criado em 2009 com o objetivo de incentivar os trabalhadores da construção civil a concluírem os ensinos fundamental e médio. “Essa ação teve um impacto positivo na comunidade e nos trabalhadores, mas a empresa viu a necessidade de investir na capacitação profissional desses colaboradores após concluírem essa etapa do ensino”, explica Felipe.
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