Biblioteca comunitária abre novos horizontes para pessoas com deficiência e autismo em abrigos de Roraima
Projeto Mi Casa, Tu Casa implementou duas novas bibliotecas em Roraima por meio de uma parceria do Jornal JOCA, Hands On Human Rights, ACNUR e Operação Acolhida
Boa Vista, 4 de fevereiro de 2022 – Em menos de uma semana, a adolescente venezuelana Esmeralda S, de 13 anos, devorou dois livros completos entre uma e outra atividade do abrigo Pricumã, onde está acolhida com sua família em Boa Vista, Roraima. Não se trata de uma competição de leitura, mas da oportunidade criada pela inauguração de mais uma biblioteca do projeto Mi Casa, Tu Casa nos abrigos da Operação Acolhida, resposta governamental ao fluxo de pessoas refugiadas e migrantes da Venezuela para o Brasil.
“Eu amo ler, mas não pude trazer livros da Venezuela. O livro que mais gostei de ler até agora na biblioteca do abrigo foi ‘Pollyana’, que ensina sobre gentileza e esperança”, conta Esmeralda.
A biblioteca do abrigo Pricumã foi inaugurada recentemente, assim como outra semelhante no abrigo Espaço Emergencial 13 de Setembro. Agora, já são 3 bibliotecas do projeto Mi Casa, Tu Casa funcionando nos abrigos da Operação Acolhida em Boa Vista, além de uma em Pacaraima.
Esmeralda não é apenas uma leitora voraz. Desde a inauguração da biblioteca do abrigo Pricumã, ela se voluntariou para apoiar na organização do espaço comunitário. E tem sempre ao seu lado o irmão Jorge
Gabriel S, de 5 anos, que é uma pessoa autista que adora livros. Gabriel participa das atividades da biblioteca e aprende a decifrar suas primeiras palavras com livros voltados à alfabetização.
O projeto Mi Casa Tu Casa é uma parceria do Jornal JOCA, da ONG Hands On Human Rights, da Agência da ONU para Refugiados (ACNUR) e da Operação Acolhida, com apoio da organização parceira Fraternidade Sem Fronteiras (FSF).
“A biblioteca é um projeto maravilhoso, que estimula a educação e aprendizado coletivo. Meus filhos são minha vida e quero que todos cresçam sem estigmas. Quero que convivam na sociedade, entendendo diferenças e igualdades, mas crescendo juntos”, diz o pai de Jorge e Esmeralda, Angel S., que está com sua família no abrigo para refugiados e migrantes da Venezuela há cerca de seis meses.
A jovem Adriannys Rondon, de 21 anos, é uma pessoa com deficiência intelectual, apaixonada por pássaros e vai à biblioteca todos os dias ler um livro sobre tucanos. Ela também realizou o empréstimo de alguns gibis para ler com a mãe, Mileidys Rondon, na Unidade de Habitação para Refugiados do ACNUR onde estão alojadas no abrigo. “Após a biblioteca, Adriannys está mais calma e tem acesso a atividades de estímulo positivo. Para nós, é difícil comprar um livro”, explica a mãe.
“Em uma resposta humanitária é preciso levar em consideração fatores como idade, gênero e diversidade e também certas necessidades específicas, para garantir iniciativas inclusivas. O projeto Mi Casa, Tu Casa, no Abrigo Pricumã, atende a muitas pessoas com deficiência e leva em consideração suas necessidades e capacidades”, diz Julia Alapenha, Assistente Sênior de Proteção do ACNUR.
A princípio, a biblioteca tinha uma disposição diferente de livros, que foi alterada para poder atender a pessoas com mobilidade reduzida, a partir de estantes mais baixas. A comunidade também está se mobilizando com a formação de grupos de leitura para apoiar pessoas com pouca familiaridade na escrita.
“Crianças refugiadas chegam no Brasil com histórias angustiantes e grande trauma devido ao deslocamento forçado e ao desenraizamento. Nosso trabalho como trabalhadores humanitários é fornecer serviços essenciais para superar o trauma e apoiar seu caminho para a integração. Este pequeno, mas poderoso projeto, traz um novo horizonte e proporciona sonhos para escapar da dura realidade nos abrigos”, diz Oscar Sanchez Piñeiro, Chefe de Escritório do ACNUR em Roraima.
Arrecadação de livros por jovens brasileiros – As bibliotecas do projeto Mi Casa, Tu Casa foram criadas por meio de doações de livros e financiamento coletivo de crianças e adolescentes brasileiras com seus tutores, que vieram a Roraima junto de profissionais da área da educação para organizar e orientar pessoas da comunidade refugiada e migrante no uso das bibliotecas.
O Abrigo Pricumã recebeu mais de quatro mil exemplares de livros incluindo todas as faixas etárias, que vão desde livros lúdicos para crianças que ainda não aprenderam a ler aos clássicos da literatura para adultos. As quatro bibliotecas em Abrigos da Operação Acolhida e no projeto Canarinhos da Amazônia já somam mais de 12 mil livros doados para Roraima, que impactam positivamente a vida de quase 1200 crianças e adolescentes da Venezuela que vivem em abrigos temporários em Boa Vista, além de pais e mães da comunidade. “Foi incrível vir a Roraima e poder implementar a biblioteca ao lado das pessoas refugiadas. Vemos como as crianças ficam felizes e impressionadas com os livros e que elas também se sentem valorizadas e vistas. Eu me senti muito emocionada durante a missão. É difícil ver essa realidade, mas é bom saber que temos um impacto positivo para apoiar as crianças. Todos deveriam ajudar”, conta a jovem Beatriz Abram, de 14 anos, que se deslocou de São Paulo como voluntária do projeto Mi Casa, Tu Casa.
No total, o projeto arrecadou quase 40 mil livros e irá também instalar bibliotecas em São Paulo e outros espaços de desenvolvimento e convivência para pessoas da Venezuela que buscam proteção e asilo no Brasil.
Para promover a interação entre as crianças brasileiras e refugiadas e migrantes, o Mi Casa, Tu Casa proporciona a troca de cartas entre os jovens. “Queríamos que as trocas fossem um movimento de boas-vindas e de diálogo. Os preconceitos de adultos são muitas vezes criados por não conhecer ou acessar a realidade do outro”, contra Stephanie Habrich, fundadora do Jornal JOCA.
“Além da implementação das bibliotecas em abrigos para refugiados, um dos pilares fundamentais do projeto Mi Casa, Tu Casa é sensibilizar a população brasileira sobre o tema refúgio, proporcionando uma melhor integração entre refugiados e brasileiros, combatendo diretamente a discriminação, que produz resultados devastadores”, diz Edgard Raoul, coordenador da ONG Hands On Human Rights.
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