Covid-19 e o planejamento a curtíssimo prazo na produção industrial
Ricardo Rossin
Um dos maiores desafios da gestão da produção industrial com o advento da pandemia de Covid-19 reside na dificuldade de planejar ações. De uma semana para outra, de cidade para cidade, empresas dos mais variados segmentos são autorizadas ou desautorizadas a funcionar de acordo com decisões administrativas focadas na saúde e/ou economia.
Nestes últimos tempos, com o aumento de casos e de mortes de Covid-19 no país, esse cenário tem sido ainda mais dinâmico. Como, então, efetuar um planejamento se as metas que instituímos para daqui a um mês caem por terra com acontecimentos abruptos - por exemplo, restrições de circulação em determinados horários, antecipação de feriados, afastamento de colaboradores e dificuldades com disponibilidade de matéria-prima?
Cidades e Estados têm transitado inúmeras vezes entre as chamadas "fases" de acordo com a evolução da doença. Além disto, categorias diferentes de atividades comerciais e industriais passam de essenciais para não essenciais ou, de uma forma ou outra, podem reabrir ou são obrigadas a fechar.
Na outra ponta da cadeia, vemos também as oscilações na disponibilidade de matéria-prima. Tivemos dificuldades com o fornecimento de embalagens metálicas e plásticas em função de falta de insumos para nossos fornecedores. O papelão também ficou escasso por um grande período e, no final de março, devido às demandas de metal no mercado, houve falta de tambores metálicos para atendimento de nossos pedidos .
Temos utilizado, na Montana Química, o conceito de planejamento a curtíssimo prazo (ou microplanejamento) como ferramenta central na gestão industrial em tempos de Covid-19. Devido a essas mudanças tão repentinas no mercado, esse processo tem nos ajudado bastante a ganhar equilíbrio na balança da qual um dos pratos é o superestoque e o outro é a falta de produtos.
Esse tipo de planejamento industrial exige, antes de tudo, um alinhamento interno muito bem consolidado com outros departamentos, em especial o comercial/vendas. Saber definir quais são as demandas urgentes e prioritárias dos clientes tem um enorme impacto positivo na produção. Também é preciso haver um bom alinhamento de ponta a ponta na cadeia, dos fornecedores aos clientes. É preciso saber não só seus anseios e dificuldades atuais, como também os futuros.
Planejamento e agilidade na tomada de decisões também são essenciais. Se o governo pensa em antecipar feriados, por exemplo, é necessário discutir rapidamente sobre todos os cenários possíveis e estar preparado para agir caso a decisão governamental se torne oficial.
A gestão de pessoal, por fim, é uma dica primordial. Ajustar os horários dos colaboradores para que não sejam obrigados a utilizar o pico do transporte público; dividir a equipe em turnos alternativos; treinar o time para que ele possa ser redistribuído rapidamente entre diversas atividades; e contar com a agilidade da equipe de RH na contratação de trabalhadores temporários para garantir maleabilidade ao gestor.
Ainda dentro de nossos recursos humanos, o investimento em prevenção e rastreabilidade da Covid-19 traz resultado duplo: segurança e produtividade. Não só seguir as regras sanitárias estritamente (uso de máscaras, lavar as mãos, demarcar ambientes para exigir distanciamento, rodízio para o almoço), como também implementar ações de prevenção (questionário diário sobre suspeita da doença e sintomas variados, medição de temperatura dos colaboradores, treinamentos/diálogos de segurança) e de combate (afastamento de funcionários com suspeita própria ou na família, além de acompanhamento de saúde), sempre contando com todo o trabalho do time de segurança do trabalho e definições do comitê de crise estabelecido desde o início da pandemia.
Caso a sua produção não esteja alcançando um desempenho tão positivo neste momento de transformações tão ágeis (muitas vezes, desenfreadas), talvez neste momento seja necessário ajustar o balanço entre o planejamento de curto, médio e longo prazo. No cenário atual, com tantas incertezas, priorizar ações de curto - melhor ainda, de curtíssimo prazo - poderá mostrar melhores caminhos na busca dos melhores resultados .
Ricardo Rossin é gerente de produção da Montana Química.
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